Arte

40 anos sem Glauber Rocha

40 anos sem Glauber Rocha

– Mais fortes são os poderes do povo – grita Corisco em “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. A cena ocorre no instante em que se cruzam as trajetórias de dois dos grandes personagens do filme. Antônio das Mortes e Corisco se enfrentam num duelo épico, mítico, fundacional. Pouco antes de morrer, o cangaceiro grita aquelas palavras, que ecoam até o fim. Até hoje. Eternamente.

Glauber tinha pouco mais de vinte anos quando fez o filme. Poucos anos depois faria “Terra em Transe” e “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, que lhe deu a palma de ouro em Cannes. Três dos grandes feitos da história do cinema. Três monumentos da arte e do pensamento brasileiros. 

Arte e pensamento definem sua obra. A originalidade de sua compreensão cênica soma-se à profundidade de sua crítica. Seus filmes trouxeram novidades impactantes. Mas também evocaram os temas clássicos – ou melhor, eternos – que permitiam extrair de sua narrativa a máxima profundidade. Glauber impressionou os olhos e os ouvidos do público. Maior impressão, porém, deixou em suas consciências. 

Mais que tudo, são seus textos que me impressionam. Suas falas, seus argumentos. Não apenas em seus roteiros, certamente entre os melhores que já vi. Mas em seus artigos, em seus livros, em suas entrevistas. Poucos se lembram de que ele tinha um quadro no Programa Abertura, a cujo nome não foi indiferente a criação deste nosso projeto, exibido pela Rede Tupi em 1979. Ali, diante de uma câmera (na mão) que ele própria dirigia de improviso, e com milhões de ideias (na cabeça) que disputavam a honra de se tornar seu discurso, Glauber expressava toda sua genialidade: o sarcasmo, a astúcia, a mais alta inteligência, a arte mais engajada. 

– Mais fortes são os poderes do povo.

Glauber se foi aos 42 anos, em 22 de agosto de 1981. Foi cedo. Alguém disse que seu corpo não pôde suportar por muito tempo a profusão de seu espírito. Concordo e acrescento: a eternidade há de suportá-la. Sua obra segue viva. Seu espírito segue despertando os nossos.

Werner Schön

Werner Schön tenta fazer literatura. Em Jaraguá do Sul.

Comentários:

  1. Grande Glauber Rocha!

    Um dos maiores!

    Danilo Otoni Meiras em 24/08/2021
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