Existem filmes que são para poucos. Infelizmente, é a realidade. Principalmente se formos pegar a audiência brasileira, que prefere chorar com blockbusters a buscar conhecimento se contextualizando em determinadas épocas e locais. É o caso do excelente O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS (2011), do sueco Tomas Alfredson, que remonta ao Serviço Secreto da Inglaterra em 1973, no auge da Guerra Fria. Sob os tiros cruzados entre a CIA e a KGB, a Inteligência Britânica sofre por causa de um agente duplo. E faz o que sempre fizeram de melhor (James Bond que o diga!): observa e espiona.
Através da fotografia fria e um leve toque de nobreza imodesta, a espionagem clássica é revivida nesta obra pela chefia de George Smiley (atuação magnífica de Gary Oldman), um aposentado ex-integrante do alto escalão inglês que só desejava ficar em casa após uma desastrosa missão na Hungria. Assim, os esquizofrênicos ecos de uma disputa surreal continuam a soar permanentemente na sua cabeça – mentiras, traições, confusões, mistérios, segredos, tudo é um ingrato parceiro das suas imaginações. Tanto que para compor seu novo grupo, foram chamados agentes mais novos, Peter Guillam (Benedict Cumberbatch) e Ricky Tarr (Tom Hardy), que vão apressadamente de bicicleta para o trabalho enquanto os mais velhos caminham vagarosamente (essa dicotomia, presente em quase todo o filme, é uma aula de cidadania cinéfila).
Pra quem aprecia o jogo de xadrez, há claras referências ao enovelado desenvolvimento narrativo de um roteiro robustamente inteligente. Planos distantes, figurinos charmosos, violência travestida e usos de flashbacks dão o tom para as soluções da trama na medida certa, prendendo o espectador e respeitando sua análise particular. Para os descontextualizados, esta fita parecerá confusa e muitos sairão com a sensação de “não entendi nada”. Enfim, uma pequena demonstração do que foi uma era onde o pânico do desconhecido era uma paranoia real. Porém, sem propósito.
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