O cinema, assim como todas as artes, tem várias facetas. Alguns gostam apenas do entretenimento, outros preferem a informação. Uns se deliciam com os teatrais e existem, ainda, os pensadores intelectuais que juntam todos esses numa só fita. Tem, inclusive, faculdade de cinema para dissecar as incontáveis camadas de uma obra cinematográfica. Ademais, há o cinema social. Aquele que insere o espectador no famigerado “lugar de fala” e expressa na telona o meio que nos cerca mas não conseguimos enxergar. É o caso de O SOM DO SILÊNCIO (2019), de Darius Marder, que dá um soco certeiro no capacitismo e na fragilidade neuroexistencial da geração século XXI.
Ruben (Riz Ahmed em estado de graça) é um baterista de heavy metal que perde a audição abruptamente. Ele e a namorada Lou (Olivia Cooke) moram num trailer e ganham a vida fazendo shows e vendendo camisas de rock. Ou seja, Ruben, que utiliza seu corpo para sobreviver, foi traído pelo próprio corpo. A frustração de quem nunca teve nada atinge o ápice, ainda mais quando chega a salgada conta médica. Assim, há a necessidade de ajuda. E quem entra em cena é Joe (Paul Raci em atuação absurda), um veterano que perdeu a audição na guerra, ao demonstrar ser a saúde mental mais importante que a clínica para um rapaz recém acometido pela surdez.
Felizmente, é um agrado e tanto para essa parcela da população, que sofre com preconceitos e estereótipos. Eu, como fonoaudiólogo, sinto-me representado e sigo na luta por mais conquistas dos surdos, que já possuem a Libras como a língua materna oficializada desde 2002 no Brasil. E, voltando ao filme, abre-se mais um espectro de discussão num final não muito otimista mas essencialmente existencialista – qual o mais acolhedor, o som metálico ruidoso ou o ensurdecedor som do silêncio?
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