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Adão dos Açores: Nossa história – ato 7

Adão dos Açores: Nossa história – ato 7
Imagens do sul do Brasil atribuídas à Jean-Baptiste Debret

Quem navegasse pela costa brasileira no século XVII, de São Paulo à Ilha de Santa Catarina, avistaria três núcleos destacados da incipiente ocupação portuguesa: Cananeia, Paranaguá e São Francisco do Sul. Três grandes baías onde era possível atracar as embarcações. Três pontos do mais alto interesse da empresa colonialista de Lisboa.

Os espanhóis rondavam a região, nada amistosos. Desde a Guerra da Restauração e o fim da União entre Portugal e Espanha, o sul do Brasil era palco de uma disputa acirrada entre os dois impérios. São Francisco era um ponto estratégico nesse contexto. A vila cresceu em razão da importância da Babitonga: os longos braços da baía acolheriam quem a conquistasse – e Portugal cravou aqui suas garras bandeirantes.

Meus avós não eram conquistadores, mas conquistados. Cultivavam a mandioca e o gravatal. Empurravam a roda do engenho. Enriqueciam uns poucos senhores. Mas assim povoaram São Chico e seus arredores. E descobriram nesses arredores as antigas tabas de seus avós exterminados: Itapitinga, Iraçu, Itapocoroi.

Meus avós já não se importavam com extintos antepassados: eles agora eram portugueses. Das tabas desocupadas fizeram novos núcleos. E espalharam na costa, de Cananeia a Laguna, seu sangue português e carijó. Perfeitamente servis, ajudaram a consolidar o poder da Coroa portuguesa. Inconscientemente, também eles construíram isso que chamamos Brasil.

Adão dos Açores

Adão dos Açores é natural da Penha, onde voltou a morar depois de longa ausência. Escreve sobre história e estórias.

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