Opinião

As olimpíadas e a esperança

As olimpíadas e a esperança

Sou um homem pessimista. Nem sempre fui assim. Mas tenho sido, desde alguns anos, cada vez mais. Não sei exatamente como e quando nasceu meu pessimismo. Foi em algum instante da segunda década deste século. Eu tinha trinta e tantos e vislumbrei o futuro. Um futuro que repete o passado e que desde então só se confirma. 

Era vasto o horizonte que vi naquele instante. Tão vasto que abrangia todos nós, tão vasto quanto o horizonte humano. Eu tinha trinta e tantos e fiquei atônito. Eu não saberia descrever essa visão. Não era um fato ou uma imagem, mas um processo. Não era uma cena, mas um filme. Vi o tempo se estender à minha frente como um pergaminho que se desenrola. Vi a história correndo pra consumar mais um ciclo. Desde então, só temos nos aproximado dessa consumação. Sinto que não tardaremos a chegar ao fim desse ciclo. Sinto que estamos próximos, cada vez mais próximos desse mal absoluto. 

Meu pessimismo existe porque sinto que esse mal é inevitável. Eu conheço a resistência e sei que a razão poderia evitar esse desfecho. Mas sinto que não vai. A razão já não tem argumentos novos. Os antigos não comovem mais os tímpanos ressecados de rancor e desilusão. O ódio sempre tem suas doces mentiras. Os mentirosos se multiplicam. Suas vozes estão cada vez mais altas. O extremismo criou novamente uma grande narrativa. Seu espetáculo está no ar e gera enorme suspense. O público quer ver o que acontece no final. 

Esse pessimismo, entretanto, não me imobiliza. Eu prezo minha humanidade. Extraio de mim um vigor inesgotável. Eu me vejo capaz de amar, de lutar pelo bem, de alimentar utopias. Se eu posso, todos podemos. Meu pessimismo não significa que eu desisti do amor, do bem e da utopia. Ao contrário: é justamente neste contexto soturno que a luta é mais necessária e a vida, exatamente por isso, tem mais sentido. Essa é a grande esperança. 

Esperança é a palavra que tem me ocorrido nestes dias. Dias de olimpíadas, do encontro dos povos, de reflexões sobre a humanidade. Foi um grande evento. Não porque tenha havido grandes disputas e grandes desempenhos. Mas porque houve grandes gestos. Grandes gestos dos atletas: a medalha compartilhada no salto em altura, a alegria compartilhada no skate, a tristeza compartilhada de Simone Biles. Mas sobretudo grandes gestos do público: a forma como reagimos a isso, a atenção e a compreensão que demos aos episódios mais humanos dos jogos. O mais impressionante foi termos feito isso neste tempo, durante da Pandemia, com tácitos e fundamentais acordos sobre nossa condição e nosso destino. 

As olimpíadas foram um gesto nobre da humanidade – tão nobre que reaviva a esperança de que podemos nos entender. Afinal, temos a inequívoca capacidade de admirar as mesmas vitórias, de gozar as mesmas alegrias, de sofrer as mesmas tristezas. Temos, portanto, a possibilidade de enfrentar desafios comuns e de vencer o grande mal. Meu pessimismo visualiza esse mal e o processo histórico que nos conduz a ele. Mas minha esperança, como um oriente iluminado, sugere um novo futuro em que rompe o bem de que somos capazes.

Vítor Véblen

Vítor Véblen é iniciado em literatura política. Viveu em Chicago, onde estudou economia. Mora atualmente em Joinville.

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