Há poucos meses o Presidente Bolsonaro teve uma conversa tête-à-tête com o Presidente Putin. O encontro não mereceu grande destaque na mídia. Mas representa um inequívoco sinal. Putin tem sido a inspiração de Orban, Erdogan, Netanyahu; era, sem dúvida, a de Trump; é, portanto, a do nosso Presidente. O governo de Putin envida uma luta constante pra manter seu poder. Nessa luta ele tem enorme êxito. Por isso inspira tantos governantes mundo afora.
Com a eleição de Biden, a liderança do russo foi – por assim dizer – confrontada. O americano ataca Putin no plano discursivo. Esgrime golpes de racionalidade. Argumenta que o governo de Moscou não se adequa aos princípios republicanos das democracias do Atlântico Norte. Os países ricos da Europa mostram adesão à ofensiva americana. A narrativa sobre Naválny – que não parece, sob a perspectiva jornalística, inteiramente espontânea – é um claro sintoma disso: o “opositor envenenado” seria um caso exemplar da atuação de um regime autocrático.
Mas o confronto posto por Biden não significa, em absoluto, o enfraquecimento de Putin. Talvez signifique o contrário. A inteligência russa, como nenhuma outra, está preparada para a guerra de narrativas. Diante das armas iluministas do racionalismo ocidental, os russos se protegem nas trincheiras cavadas pelos filósofos do próprio Ocidente – de Nietzsche a Wittgenstein, de Heidegger a Foucault. E contra-atacam. Sua estratégia ofensiva pode ser resumida numa palavra: pós-modernidade.
Putin entendeu os limites do conceito moderno de razão. Explorou suas fraquezas. Despedaçou suas verdades. No solo pós-moderno (ou pré-moderno) ele fixou verdades antigas: sua masculinidade, seu nacionalismo, sua fé. Sobre esses pilares, assentou seu poder.
O Presidente Bolsonaro compreende essa conjuntura. O abraço no Presidente russo é um inequívoco sinal. Também ele, Bolsonaro, é atacado por golpes iluministas dos que se arvoram defensores da razão. Também ele reage a esses golpes, dissolvendo sulfuricamente essas narrativas. Também ele se ergue, como uma estátua de chumbo, no solo dos valores antigos – nascidos bem antes da modernidade que agora, feita uma camada de lama seca sobre esse solo, já não esconde rachaduras fatais.
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