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Coluna rubro-negra: o telão do Paulinho

Coluna rubro-negra: o telão do Paulinho

Nem bem Paulo Souza chegou no Flamengo, os ares da modernidade parecem ter começado a soprar. É o que temos ouvidos por aí: novos padrões de treinamento técnico e tático, novas regras de caráter disciplinar e moral, novo jeito de tratar a imprensa. O famigerado Caê, eminente setorista da Gávea, tem propalado aos quatro ventos seu completo encantamento com o português. Todos nós, voando nas asas do oba-oba, já imaginamos o carrossel rubro-negro reinventando o futebol. 

Mas há quem nunca deixe de ter os pés fincados no chão. São os céticos, babando de pessimismo, sempre prontos a reprimir nossos arroubos. Eles dizem que nenhum novo treinamento vai ensinar o Vitinho a jogar bola. Nenhuma nova moral vai impedir o Gabigol de ir pra night. E nenhum belo discurso vai evitar que a imprensa caia de pau após três derrotas seguidas. Diante do bafo gelado do ceticismo, nossa empolgação se encolhe, nossos delírios se evaporam, nosso bom senso retorna: entre a tese e a antítese, encontramos a síntese. 

A síntese é a seguinte: ainda sabemos muito pouco do trabalho do Paulinho; e sabemos muito bem como trabalham os Caês da vida. Quantas vezes ouvimos que o Dome era o “mestre do jogo de posição”, o Ceni era o “técnico mais promissor do país” e o Renight era o “rei do vestiário”? Paulinho pode ser um bom treineiro. Pode tirar coelhos da cartola. Pode fazer sucesso. Mas convenhamos: até agora não vimos nada. A única grande novidade, indiscutível e tecnológica novidade, foi o telão.

O gajo mandou botar uma tela enorme ao lado do campo de treinamento. Não sei bem pra quê. Mas ouso supor: ele filma o treino, mostra o filme, treina de novo e corrige os erros. É uma televisão gigante que se pode ver sem deixar o campo. Dia desses vi uma reportagem sobre um treino dado pelo Paulinho. As imagens registraram dois ou três golaços do Pedro, sem contar outras maldades. Mas o Pedro é reserva. Fiquei imaginando como foi esse treino. Bola pra lá, bola pra cá: gol do Pedro. Para o jogo, liga o telão: “mas que golaço, ó pá; segue o treino”. Bola pra cá, bola pra lá: gol do Pedro. Para o jogo, liga o telão: “outro golaço, ora pois; segue o treino”. Bola pra lá, bola pra cá: gol do Pedro. Paulinho nem liga mais o telão, só cochicha pro assessor: “tenho que achar um lugar no time pra esse puto!”

“Puto” em Portugal é menino. Talvez o treineiro, como os antecessores, julgue que o Pedro ainda não tá maduro pra ser titular. Ou talvez ele tenha pensado justamente nisto: Pedro ao lado de Gabigol; BH e Arrasca um pouco mais recuados, pelas pontas; Éverton fazendo a meia com o Arão. O telão deve ter mostrado alguns buracos no time assim montado. Então ele pode ter recuado o Gabigol pra fazer o lado direito. Jogaria numa linha com BH pela esquerda e Arrasca centralizado. O telão talvez tenha mostrado menos buracos. Mas dificilmente mostrou o aborrecimento do Gabi por ter que marcar o lateral adversário. Nem tudo aparece no telão…

Enfim, conjecturas. Alimentamos o sonho tipicamente flamenguista de que o treineiro monte um time ofensivo, insinuante, arrebatador. Mas pode ser o contrário. Ele pode escalar três beques e dois volantes. E o Renê na ala! Abelinho, o treinador português que faz mais sucesso atualmente no Brasil, adora o time cheio de zagueiros e cabeças de área. Paulinho é da escola do Jesus ou do Mourinho? Vai saber! 

Tudo o que temos, por ora, é a certeza do telão. O brinquedo me lembra o carrinho-prancheta de JJ, ou a prancheta propriamente dita do Papai Joel. Falando assim eu talvez pareça um pouco debochado. Mas não, não é deboche. Ao contrário: tenho vontade de ver esse telão ao vivo e a cores. Ou melhor: ‘in locu’. Imagino que ele seja imponente e nítido; e sua nitidez tão profunda que mostre a alma rubro-negra. Se Paulinho for capaz de vê-la, há de montar um belo time. E então acabaremos todos “paulinizados”.

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