O futebol é também um grande jogo político, nos mais diversos níveis. Periodicamente, disputas que envolvem clubes, federações e até continentes inteiros dividem os torcedores e os órgãos dominantes do esporte que mais mobiliza pessoas e recursos no mundo. A nova disputa nesse xadrez envolve a possibilidade de realizar a Copa do Mundo a cada dois anos.
Em um dos lados do tabuleiro está a força reguladora do futebol, agora representada pelo lendário ex-treinador Arsene Wenger, hoje chefe de desenvolvimento global da FIFA. O francês defende que competições grandes sejam realizadas com mais frequência, e disse ao L’Equipe (França) que acredita na “vontade de organizar apenas competições que tenham um significado real e que sejam aquelas que permitem melhorar o nível do futebol”.
A UEFA, outro órgão importante do futebol internacional, se une aos torcedores, clubes e até mesmo jogadores do lado oposto. E não é necessário pensar muito para entender o motivo. No aspecto profissional, um ciclo de Copa do Mundo a cada dois anos é impraticável em um calendário exageradamente complexo e disfuncional. Ainda é necessário levar em conta que as eliminatórias aconteceriam nesse ano entre Copas, e periodicamente teriam que dividir espaço com torneios continentais que ainda aconteceriam a cada quatro anos.
Essa confusão de datas pode agravar ainda mais uma guerra já existente entre clubes e federações em datas FIFA recentes.
A história das Copas é acompanhada por mudanças. O principal torneio do mundo é atualizado ao longo das décadas, se adaptando aos cenários econômicos e geopolíticos. A partir da Copa de 2026, uma grande mudança já está prevista: o aumento do número de seleções participantes de 32 para 48. Porém a mudança agora ensaiada envolve o ciclo da competição, algo que seria inédito para os atletas, clubes e seleções, mas principalmente para os torcedores. E esse pode ser o ponto mais importante.
Recentemente, um comunicado em conjunto feito por organizações de torcedores do mundo todo em resposta à possível mudança, trouxe uma perspectiva valiosa: a Copa do Mundo é tão popular “por ser precisamente um acontecimento extraordinário”. A expectativa gerada pela espera de quatro por uma competição de poucos jogos anos transforma o troféu dourado em algo quase divino. A UEFA (talvez por outros motivos) também entende que o projeto iria “diluir” a “joia” do futebol mundial.
Guardada as devidas proporções, a Copa América é um exemplo desse fenômeno, mas por outros motivos. Ao realizar quatro edições em sete anos, perdeu significativamente em valor esportivo, se tornando algo banal para muitos torcedores.
Mesmo com grande oposição, o projeto certamente dará pano pra manga, e se junta à Super Liga Europeia na estante de devaneios potencialmente perigosos do futebol moderno.
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