Opinião

Danilo Otoni: A iniciação sul-africana

Danilo Otoni: A iniciação sul-africana

O apreço e apego pelo passado é a forma mais comum e sutil do conservadorismo, do tradicionalismo e, sim, do atraso. Sob essa assertiva, desenvolve-se o sul-africano OS INICIADOS (2017), de John Trengove. E, como disse o próprio diretor, o filme nasceu do desejo de enfrentar os estereótipos sobre a masculinidade do homem negro perpetuados dentro e fora do cinema africano.

O que menos este filme quer mostrar é a circuncisão peniana a frio e rápida, simbolicamente representando a mutilação como aceitação dos costumes. Mas, sim, a dor e o medo da solidão e das escolhas. Só que do homem sul-africano.

Opondo ao sexo frágil, o homem homossexual é sensível demais para participar de tribos machistas e reacionárias (que provavelmente o diretor participou). A macheza pulula enquanto o amor parece viver arranhado e sufocado. Ostenta-se a violência e esconde as relações de afeto e carinho. Um retrato de uma pequena parte que ainda habita o planeta com todas as suas camadas críticas e desnecessárias, sendo, sobretudo, um estudo de um processo sobre o qual todos nós participamos – a história.

No plano ideal, todo cidadão deveria poder expor sua vida sexual e pessoal, se assim for desejar. Contudo, há ambientes e realidades em que o homossexual é podado externamente e obrigado a não fazê-lo, como acontece com o protagonista do filme. Não vira uma escolha da pessoa, mas, sim, uma imposição social – uma repressão. O que se luta é para que ninguém seja obrigado a esconder sua sexualidade, e tenha o direito de admitir-se independente da opção sexual, sem ser morto por isso.

Porém, cinematicamente falando, há muita indecisão de protagonismo no desenvolvimento e o resultado final pareceu insosso e incompleto. Quem não curte a câmera de mão pode se sentir irritado com algumas trepidações, assim como a utilização somente da luz natural (o uso frequente do contraluz dá a entender que todos são iguais em silêncio no meio do nada). Mas nada que desabone esta bela obra de início bem mais evocativo que o ato final, onde, pra mim, esvai-se com as respostas que esperamos. Mesmo sabendo não se tratar de um caso isolado.

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