A arte é, também, um elemento para mudanças de comportamento. Há quem diga que ela se antecipa à filosofia e à ciência. Certeza é que a arte impulsiona vários processos ao transmitir ideais e emoções, tendo o poder de sensibilizar e questionar. Pois as manifestações artísticas são, sobretudo, reflexões. Inclusive no cinema, como no road movie neofeminista THELMA & LOUISE (1991), de Ridley Scott.
Mais que um clássico cult, este longa é uma exposição da ruptura de duas mulheres acometidas pelo comportamento machista chauvinista bastante estereotipado e tradicional da nossa sociedade, onde, pra poder passar um final de semana com a amiga Louise (Susan Sarandon), Thelma (Geena Davis) não teve coragem (!) de pedir (?) para o marido valentão (…). Embarcou sorrateiramente e foi feliz.
É incrível como os atos das duas aventureiras valem mais que suas consequências. Aliás, quem se preocupou com as imprecisões das personagens precisa rir mais e ter a vida como companheira, não como um fardo. Ademais, é um manifesto feminista numa linda história de amizade. E, queira você ou não, é um filme revolucionário (a interseccionalidade já aparecia em algumas camadas imagéticas na trama).
Esta obra, que em 2021 completou 30 anos, é uma percepção precisa sobre violência de gênero. Estupro, violência doméstica, assédio sexual e moral, culpabilização da mulher pela violência que ela mesma sofre, descrédito pelo que uma mulher diz e pensa. Isso tudo, tragicamente, ainda faz parte efetiva do patriarcado como cognição e ação. Assim, espero que as várias lições de Thelma e Louise sejam que nem a cena final do filme delas – marcante e impossível de esquecer.
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