Arte

Danilo Otoni – Nem todo amarelo é ouro

Danilo Otoni – Nem todo amarelo é ouro

Sem precisar de introdução, AMARELO MANGA (2002), de Cláudio Assis, é um direto no queixo. Ou seja, não foi feito para passar o tempo. Em sua miudeza, o ser humano é estômago e sexo. Aqui, a sordidez é apresentada em luz hepática presente durante todo o longa.

O ambiente escolhido foi Recife que, como qualquer grande metrópole, abriga em suas camadas mais profundas o cidadão comum desnudo de falsos escrúpulos morais. E as entranhas das estranhezas da luxúria vomitadas em tom amarelo-manga tal qual os catarros fétidos e purulentos da pobreza.

Caso alguém sentiu asco do que escrevi, melhor parar de ler e passar batido por este filme marginal tão cru quanto cruel. Numa sucessão de curtas histórias num mosaico tresloucado e entrelaçado, o interessante e o bizarro andam lado a lado em perfeita harmonia sob a câmera incrivelmente real do diretor pernambucano. Mas era preciso ser tão sórdido? Ou a busca insípida pela fuga do “clichêismo” do cinema brasileiro extrapolou certos limites aqui? Por que as esquisitices dos ricos são tratados como crises existenciais enquanto as dos pobres são bizarrices? Aos espectadores, as respostas!

Não é uma obra de roteiro amarrado e conciso, pelo contrário. É simples e há furos e espaços que desprendem a atenção do público em diálogos, muitas vezes, secos e desinteressantes. Até o bom elenco tateia nalgumas cenas. Assim como a trilha sonora é fraca e inconsistente durante sua projeção. Porém, a construção identitária dos personagens é esplêndida, com enfoque na força das mulheres em situações desfavoráveis e adversas.

Enfim, mais um exemplar do “adoro ou odeio” que eu, convenientemente, fico em cima do muro (apesar de achar mais prós que contra). Vale a investida sem se vestir de pudor. Porque, se há fiapos nos dentes no rosto todo amarelo, é tempo de manga.

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