Nelson Pereira do Santos foi um dos precursores do movimento do Cinema Novo brasileiro. Paulista de nascimento, foi no Rio de Janeiro que se encantou com a cinefilia marcando uma trajetória de sucesso não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Dentre seus filmes (mais de 20) estão ‘Rio, 40 Graus’, ‘Vidas Secas’, ‘Fome De Amor’, ‘Tenda Dos Milagres’, ‘Memórias Do Cárcere’ e ‘Jubiabá’, além deste que será comentado aqui: o antropofágico COMO ERA GOSTOSO O MEU FRANCÊS (1970).
A história remota ao Brasil do século XVI, mais precisamente 1594, quando um aventureiro francês prisioneiro dos Tupinambás escapa da morte graças aos seus conhecimentos de artilharia – livremente inspirada na vida de Hans Staden. Assim, desenvolve-se sob a óptica da difícil relação entre colonizados e colonizadores, entre risos, aventuras e apreensões.
Sobre a formação do caldeirão cultural brasileiro, eis uma aula de antropologia. Mas com a ironia necessária da época do lançamento da fita – o auge da ditadura militar. A começar pela voz off, no início do filme, quando tudo o que é falado mostra-se contrariamente nas imagens. Também consegue, em termos de rigor e sinceridade, visualizar o passado que colocou colonizadores e colonizados num clima de relações antropofágicas. Que é o tema desta obra.
Só que o filme falha como produto cinematográfico, apesar de todo o esmero. A mistura de ficção, drama e nuances de documentário não funciona. O idioma tupi é tão difícil que os personagens índios pareciam fantoches com sotaques quando falavam. E, ainda, há uma grande repetição de cenas sem nenhum filtro narrativo.
Porém, por dar ao espectador outra proposta de pensamento sobre uma ideia já enraizada e massificada, esta obra é um registro único e necessário tanto do cinema nacional quanto da história do Brasil, apesar das falhas de concepção. E que deve ser visto, revisto e discutido.
E que bela trilha sonora (mais tropicalista impossível) de Zé Rodrix!
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