O mundo real é mais perverso que o do cinema, mesmo os filmes de horror. A gente fere, corta, sangra e mata. Mas a gente faz arte também! E retrata, na telona, os nossos desvios de conduto de maneira sublime e avassaladora, como no excelente longa holandês O SILÊNCIO DO LAGO (1988), de George Sluizer, sobre violência inesperada e aleatória que pode acontecer em qualquer lugar.0
O título abrasileirado ficou muito fora do contexto, já que o nome original ‘Spoorloos’ é traduzido como “sem vestígio”, o que, por si só, é o spoiler e o resumo da obra: uma busca desesperada e obsessiva de um homem por sua namorada desaparecida. Só que os segredos desse sumiço nos são revelados aos poucos. E é devastador. Numa mistura de suspense com thriller psicológico, esta fita é um tapa na cara de quem acha que o mundo vai nos ajudar. Ou uma divagação sobre considerar a vida cotidiana salva e segura até que seja alterada por uma desgraça em um único instante. Qual maneira de morrer representaria de forma mais assustadora a solidão?
Acima de tudo, é um belíssimo estudo de personagem – uma obra que mostrará o processo simbiótico entre dois indivíduos unidos por um evento isolado. A psicopatia é um transtorno psicológico caracterizado por comportamentos antissociais e impulsivos, além de desprezo e falta de empatia com os outros. A frieza dos seus atos é algo surreal, ainda mais quando se trata de um pai tradicional de delicados gestos familiares. E o roteiro nos coloca em situações inimagináveis, porém, altamente palpáveis, onde toda a situação desenvolvida, utilizando-se do azar ou sorte para nortear a narrativa, é aterrorizantemente cruel.
Sufocante e tenebroso, é o filme definitivo sobre o poder do acaso. Adicionam-se clima sombrio, atmosfera que suga e redemoinho de sentimentos. Pronto! E a conclusão é, sem dúvida, um dos finais mais enervantes do cinema de horror dos anos 80. Filmaço!
Comentários: