A UEFA Euro e a Copa América são competições com premissas bem parecidas, mas com recepção e resultados quase opostos. Apesar de acontecerem praticamente ao mesmo tempo neste ano – iniciadas no último final de semana – e reunirem os jogadores de elite de seus respectivos continentes, é clara a desigualdade de organização e até mesmo do futebol apresentado nos dois torneios. Um tem público em todos os jogos, outro não. Um tem até certo clima de Copa do Mundo, o outro parece acontecer mesmo para cumprir tabela.
As explicações para essa distância são diversas e passam longe do senso comum de que tudo que é europeu, ou estrangeiro, é melhor. Mesmo assim, um ponto superior no velho continente que é muitas vezes ignorado por aqui, acaba intensificando essa desigualdade: a qualidade do gramado.
Após o empate em um a um contra a seleção do Chile, Lionel Messi, eleito o melhor do jogo, reclamou do gramado do Engenhão, no qual marcou mais um de seus belos gols de falta. No empate em que a seleção argentina foi superior, Messi disse que o campo “não ajudou muito”. Outro Lionel, o Scaloni, técnico da albiceleste, foi ainda mais duro nas críticas: “Ter jogado neste campo diz muito. O estado é lamentável. Aos 10 minutos, já não dava mais para jogar. Está mais para outro esporte do que para futebol”. Para completar, se mostrou incomodado com o estado da grama na Arena Pantanal, onde a Argentina enfrenta a Bolívia no dia 28.
A reclamação dos argentinos pode ser entendida equivocadamente como uma desculpa de quem não venceu o jogo, mas faz todo sentido esportivo. Afinal, quando você planeja uma forma de jogar que depende de passes rápidos ou de velocidade com a bola, um gramado bem cuidado é algo imprescindível, principalmente em uma competição de elite que tem a obrigação de fornecer as condições para qualquer plano de jogo.
A importância de um campo bem cuidado pode também ser vista no rápido crescimento daquela que é hoje uma das maiores ligas do mundo: a Premier League. Frequentemente surgem vídeos dos gramados ingleses das décadas de 80 e 90: verdadeiros pântanos, onde em jogos de qualidade duvidosa jogadores disputavam a bola em poças de lama. A transformação da liga veio de várias mudanças estruturais e culturais do esporte na Inglaterra, e uma delas foi uma verdadeira revolução nos gramados.
Como bem explica o lendário treinador Arsène Wenger no artigo do Guardian sobre o tema: essa mudança ajudou “especialmente na velocidade do jogo”. Campos bem cuidados interferem menos no jogo, abrem ainda mais espaço para novas formas, táticas e para o talento dos próprios jogadores da liga, como podemos ver nos jogos da Premier League, ou qualquer outra liga europeia de elite nos tempos recentes.
Se lá estão Cristiano Ronaldo e Mbappé, aqui estão Messi e Neymar, se Portugal consegue montar uma ótima seleção com uma população pequena, de pouco mais de 10 milhões de habitantes, o Uruguai revela jogadores de elite em meio às 3,4 milhões de pessoas nascidas naquele território. O problema não está no talento individual ou nas equipes, corpos técnicos ou táticas dos sul-americanos, mas em detalhes que alguns veem como banais, como o palco de todo o espetáculo.
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