
Ficamos assim, sem música, sem danças, sem livros, sem pinturas, sem esculturas.
Ficamos assim mesmo, só trabalhamos nas engrenagens para suprir as demandas e as necessidades.
Ficamos assim, desse jeito, fetichistas, passando o dedo nas telas infinitas, que não importa o tempo.
Ficamos assim, numa solidão estranha, um eterno isolamento e não teremos incômodos com os desencontros e as diferenças.
Ficamos assim, sem sexo, sem abraço, nem beijo, que para isso é necessário falar, se expor, se declarar e sim, ficamos assim, sem amor.
Ficamos assim, como testemunhas inúteis das bestialidades dos gritos e dos homens armados, já que não nos resta mais nada senão a cena, a cena, a cena, a cena.
Ficamos assim, que os olhos ardem pela fumaça tóxica da morte e dos efeitos morais destes tempos em que selvagens gritam mais alto. Inertes, esperamos.
Assim, bem assim, apáticos, chapados e crentes nos remédios que o doutor de branco sedutor receitou, que foi num jantar oferecido pelo laboratório que disse, que a indústria determinou, que é para isso que serve, conforme o manual.
Que é o jeito que a gente aguenta, bem assim.
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