
Das dores, que são muitas, tantas
Das dores, que se espalham…
Não, não consigo.
Estou triste e um pouco cansado.
Não era assim que deveria ser.
Aquele sonho, eu queria ver se realizando.
Ou então, que fosse para acordar do pesadelo.
Não, não consigo.
Me falta inspiração e um certo ímpeto em fazer
A poesia está aqui, mas fala baixinho
Para as orelhas delicadas
Que é gentil falar assim
Não, não consigo.
Que tudo que preciso é um copo com água entregue por uma mão generosa
Essa nossa garganta seca
Esses nossos olhares distantes
A gente precisa se encontrar e mal se sabe de si
Não, não consigo.
Mas a gente se insiste
Pesco um olhar pela beirada úmida
E se você insistir comigo
E erguer meu queixo pela mão
Levantar meu olhar
Não, eu insisto
Que as mãos entrelaçadas
Cotovelos apoiados em joelhos
A gente se diz tocando nossos peitos com mãos sinceras
Existimos, dizem nossos corações guerreiros
Ali são provas de vidas
Eles insistem
Não, não desistimos
Erguendo nossos queixos cúmplices das dores
Nossos olhares se encontram
Nossos corações, mãos, cotovelos, peitos
Somos provas
Somos gestos
Declamamos baixinho estes versos tolos
Suspiramos juntos
Não, somos felizes incertos
Poetas, poemas, malabares nos sinais
Somos dúvida, cansaço, tristeza
Somos cênicos, enganados, sonhadores
Somos amores em bilhetes tímidos entregues secretamente
Não, somos bonitos
Não só, não eu
Não, não temos garantias
Mas nos temos assim
Que eu te ergo e te tiro das distâncias
Você me puxa, me empurra
E dizemos juntos: vamos
Nós
Primeira pessoa
Plural
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