O final da Década de 70 não indicava um futuro assim tão brilhante para os Estados Unidos. Era um período de instabilidade econômica devido a uma insuficiente resposta americana aos novos protagonistas da cena comercial internacional, a Europa Ocidental e a Ásia, principalmente Alemanha e Japão.
Nas eleições presidenciais de 1980, o presidente democrata Jimmy Carter não conseguiu a reeleição, perdendo a disputa para o republicano Ronald Reagan. Já em primeiras ações em âmbito internacional, o novo presidente promovia o isolamento do já combalido bloco socialista, pretendendo evitar a influência de regimes políticos de esquerda na América Latina, bem como acirrar a corrida armamentista contra os soviéticos. No âmbito interno, Reagan desfazia as políticas sociais do anterior governo democrata.
Nesse cenário, a banda Dead Kennedys lançou seu primeiro álbum, o “Fresh Fruit for Rotting Vegetables”, em 1980. A faixa inicial do álbum era bem polêmica, com uma pitada de ironia (e de crítica), marca que a banda carregou pelos seus curtos nove anos iniciais de existência: “Kill the poor”.
A solução para o problema social dos Estados Unidos, de acordo com a música (ou com a ironia), era simples: matar todos os pobres. Aproveitar-se-ia das novas tecnologias que a Guerra Fria tinha promovido, como a bomba de nêutrons (cuja ação destrutiva apenas atingia organismos vivos, mantendo-se, por exemplo, a estrutura de uma cidade intacta), e assim ter-se-ia um serviço limpo, com a pobreza erradicada e os alicerces morais da cultura americana preservados. A música era uma pancada no reaganismo.
Parênteses sobre o álbum “Fresh Fruit for Rotting Vegetables”: ele contém dois outros clássicos da banda, “California Über Alles” e “Holiday in Cambodia”. Uma pancada atrás da outra.
Pouco tempo antes do lançamento deste disco, no outono de 1979, Jello Biafra, então líder da banda, tinha se candidatado à Prefeitura de São Francisco. O seu plano de governo tinha algumas medidas inusitadas, como forçar grandes empresários e políticos a usarem trajes de palhaço dentro dos limites da cidade e permitir que os parques públicos vendessem ovos e tomates para que as pessoas pudessem arremessar nas estátuas de “homenageados” com cujos valores não concordassem. Em uma eleição com dez candidatos, ele terminou em terceiro, com 6.591 votos.
Ironicamente, “kill the poor” não era uma das suas promessas de campanha.
*Contém ironia; e sobretudo, nesta ironia, uma crítica ácida. Como tudo, ou quase tudo, dos Dead Kennedys.
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