Opinião

Serjão Santana: “Em meu Dream Team, nem Cristiano nem Messi”

A France Football, a mais tradicional publicação sobre o esporte, divulgou no fim do ano passado o seu Dream Team. Pretende ser a seleção de todos os tempos. Eis a escalação: Yashin; Cafu, Beckenbauer e Maldini;, Maradona e Pelé; Cristiano Ronaldo, Messi e Ronaldo. Acho que o tal Dream Team não representa a história do futebol. Minha seleção seria bem diversa.

Quem são Cafu e Maldini diante de Djalma e Nilton Santos? Como comparar Xavi com Obdúlio Varela? Matthaus com Didi? Os Ronaldos com Leônidas e Zizinho, ou com Puskas e Di Stéfano? Quem é Messi ao lado de Garrincha? Afinal, o futebol começou na copa de 70?

O tal Dream Team, parece, foi escolhido por meninos da “geração vídeo game”. Meninos que não conseguem enxergar além de sua era, tão rica em dinheiro e tão pobre em futebol. Uma era em que se medem jogadores – e a própria a história – por números rasos e tortos.

Cristiano Ronaldo, por exemplo, foi alçado nesta semana a algo como um trono real. Tudo porque quebrou a marca de gols de Pelé em jogos oficiais. Eu poderia discutir essa marca. Poderia dizer que Pelé só não fez mais gols em jogos oficiais porque havia, em sua época, menos jogos ditos oficiais. E poderia dizer que na maioria dos jogos não oficiais de Pelé houve adversários muito mais qualificados que, por exemplo, um Cagliari. Mas não: não me atenho a detalhes inconspícuos. Digo apenas que Pelé é incomparavelmente melhor que Cristiano. E digo mais: há outros trinta, pelo menos, melhores que este.

Nem Cristiano nem Messi, nem Matthaus nem Xavi, nem Maldini nem Cafu: o futebol tem deuses em Olimpos mais altos. Os números não medem o brilho das estrelas. O vídeo game transforma tudo – deuses, Olimpos, estrelas – em desenhos de luminosidade barata. Se eles, os meninos, vissem as imagens de minha memória, conheceriam uma luz diversa. Sob essa luz, escolheriam um outro Dream Team. Diante deste outro, os meninos e os velhos, todos nos encantaríamos mais.

Serjão Santana

Serjão Santana jogou futebol amador em Itajaí. Fã dos irmãos Rodrigues, abraçou a crônica esportiva. É marcilista e botafoguense.

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