“Que o novo, o novo sempre vem” – diria Belchior, e chegou a vez do Breaking marcar presença nos Jogos Olímpicos. A arte e estilo dos b-boys e das b-girls garantiram presença nos Jogos de Paris 2024 e prometem chegar para ficar. Apresentar a cultura hip-hop ao mundo não é a grande questão, isso já vem sendo feito há décadas por músicas e principalmente em filmes, se trata do momento da cultura urbana ser abraçada em novos lares.
“Digo que estou encantado como uma nova invenção”. Com movimentos e uma personalidade única, a brasiliense Júlia Maia, b-girl da Seleção Brasileira de Breaking, cria e recria em expressões e brincadeiras uma forma de se divertir e sobressair durante as batalhas de breaking. De coração aberto e sentindo a energia do público, Maia saiu vencedora do Red Bull BC One Brazil e será representante do Brasil no Last Chance Cypher, torneio que decide as vagas derradeiras para a Final Mundial do Red Bull BC One, um dos mais importantes eventos no calendário do breaking, marcado para 12 de novembro.
“Já faz tempo, eu vi você na rua, Cabelo ao vento, gente jovem reunida”. O início do breaking está relacionado ao surgimento do Hip-Hop, uma corrente musical e cultural que simbolicamente nasceu no Bronx, Nova York, no início da década de 1970. O evento que antes era apenas um encontro entre amigos tornou-se o ponto de partida para a afirmação da cultura urbana. A ampliação do espaço do breaking trouxe a possibilidade de mais mulheres se interessarem e participarem das ações encabeçadas pelo hip-hop, cultura ainda hoje amplamente dominada pelos homens.
“Nossos ídolos ainda são os mesmos”. Como Nossos Pais, Júlia Maia é também conhecida em Brasília como palhaço Macaxeira, filha de um dos maiores da cidade na arte da Palhaçaria, o palhaço Mandioca Frita. Ao lado do pai faz parte da Trupe Raiz do Circo que reúne a família em suas apresentações. Outro trabalho de Júlia é com o grupo As Desempregadas, formado por mulheres artistas com trabalhos voltados a ações sociais e espetáculos de rua. A trajetória do pai como palhaço já passa de 20 anos e o que se diz na capital federal é que a arte e o encanto do palhaço Mandioca Frita estão na simplicidade e no afeto.
“E eu sinto tudo na ferida viva do meu coração”. A experiência dos trabalhos na rua, vivendo de arte, trouxe para a Júlia além da autonomia e um vasto aprendizado, também adquiriu a resiliência de não se deixar interromper por nenhum obstáculo. Resistir e existir. A persistência em se manter ativa no breaking, mesmo com pouca estrutura para treinar, resultou na possibilidade de conhecer outros países, outras culturas e se conhecer através da dança.
“Quero lhe contar como eu vivi, E tudo o que aconteceu comigo”. O início de Maia no breaking se deu naturalmente, no convívio com amigos que já tinham a dança presente em suas vidas e nos locais em que freqüentavam, mas foi ao assistir uma batalha que o encanto aconteceu. A aproximação ao b-boy Katatal e ver b-girls batalhando de igual para igual com b-boys consolidaram o caminho que Maia seguiria no breaking.
“E hoje eu sei que quem me deu a idéia, De uma nova consciência e juventude”. Maia é uma b-girl que vem se adaptando bem ao viés competitivo que as batalhas de breaking precisão apresentar nos Jogos Olímpicos. Isso sem perder de vista a parte artística e cultural que essa dança precisará conciliar com o viés de esporte. Cabe destacar que o breaking no Brasil, como esporte, faz parte da Confederação Nacional de Dança Desportiva e tem uma cartilha olímpica a seguir, mas o breaking, como dança, é expressão popular de uma cultura que não deixa de olhar o lado social e também não deixa de olhar para as outras formas do hip-hop se comunicar, visualmente e musicalmente.
“Viver é melhor que sonhar, E eu sei que o amor é uma coisa boa”. Júlia é uma artista, que vive entre os trabalhos circenses e a dedicação ao breaking. O circo é uma família e a sua família faz parte de seu circo. Maia é uma b-girl, que faz da sua dança a personalização de suas experiências e que caminha para estar nos Jogos Olímpicos de Paris como uma atleta que representa o que de melhor tem no Brasil. Júlia Maia é dessas pessoas que vale acompanhar (@maia.juliamaia) e torcer, seja nas batalhas pelas ruas de Brasília ou nas batalhas de breaking pelo mundo…
Comentários:
Ótimo conteúdo, espero que esse esporte seja cada vez mais valorizado no Brasil! Parabéns ao Paulo pela reportagem
Muito bom Paulo.
Muito bacana !! Parabéns pelo texto!
O Belchi é demais!
Texto bem escrito. Parabéns pela Arte, Cultura e Atletismo descrito no texto.
Nos Jogos Olímpicos a vida da atleta Julia retratada no texto de Paulo César, mostra como a integração entre a Arte, a Cultura e o Atletismo são capazes de alterar o cotidiano de uma pessoa e conquistar o mundo.