
Mas quem se encontra, nunca mais se perde
Quem busca a si mesmo, encontra um estranho
O estranho é um espelho, uma imagem invertida
Foi o que restou e me vi hoje com a barba por fazer
Fiz.
Senti a lâmina deslizar na pele úmida e escorregadia
Os pelos se acumulam nas frestas do aparelho
Eu cortado fui embora pelo ralo
Restos.
Ando quieto
Estranho.
Um dia me disseram que o samba tem o compasso no silêncio do surdo
Achei lindo
No intervalo do toque está o tempo
Tum, silêncio, tum, silêncio.
O espelho me mostra uma imagem de mim que não conheço
Senão pela voz do outro.
O outro me diz quem sou
Mais do que eu sei.
Essa voz de fora alcança o estranho
Torre de Babel.
Ninguém se entende
Nem eu.
Tudo bem
Lacunas necessárias de silêncios temporais.
Nos buracos as águas param
Fazem espelhos
A gente dança nas bordas.
Sem vazios
É nada
E só que se salve o samba.
Faz mais de um ano que não vou ao barbeiro
Cortei meu cabelo duas vezes aqui, diante deste espelho
Puxava as pontas e ia metendo a tesoura
Foi assustador e divertido.
O estranho ali do espelho me disse que tá,
Ficou bom.
Acho que nunca mais volto ao barbeiro
O estranho que disse
Não eu.
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