Quando Mazaropi defendeu a cobrança de Tita, na disputa de pênaltis entre Vasco e Flamengo em 1977, os mais de 152 mil torcedores presentes ao Maracanã naquela noite de quarta-feira, dia 28 de julho, tinham certeza de que a decisão havia se definido ali, naquele momento. Tamanha convicção, inclusive dos torcedores rivais, se justificava: o próximo e último batedor era Roberto Dinamite.
Pelo Brasil afora, milhões de expectadores também sabiam o que, de fato, viria a acontecer. Entre a defesa de Mazaropi e a cobrança seguinte, passaram-se alguns minutos, tempo suficiente para o narrador José Cunha lembrar da semelhança com o ano anterior, quando Vasco e Flamengo haviam decidido a Taça Guanabara, também em uma disputa de pênaltis, e o goleiro vascaíno defendera o chute de Zico, seguido de novas cobranças até que o Vasco sagrou-se campeão.
Esse curto espaço de tempo também foi suficiente para que eu me preparasse para comemorar o primeiro título no futebol. Olhos arregalados, mãos geladas, coração em disparada… Roberto corre em direção à bola, passadas largas… José Cunha ainda narra uma de suas “marcas” mais famosas: “aí o Dinamite!” O chute sai forte, bem colocado, no canto esquerdo do goleiro Cantarelli. “Tá láááááááá…”
Corri feito louco pela sala, sob o olhar silencioso do meu pai. “Calma, Rafa”, ele ainda tentou conter a euforia. Em vão. Poucas emoções são tão fortes e espontâneas como a de uma criança com o time do coração. Fortalecia ali um amor que seria (e será) eterno pelo Club de Regatas Vasco da Gama. Nascia também a admiração por Roberto Dinamite, igualmente eterna, e que se transformaria em gratidão anos mais tarde.
A reverência a Roberto Dinamite está agora simbolizada na estátua recém-inaugurada em São Januário. Uma justa homenagem ao maior ídolo do Clube, erguida graças à contribuição financeira de milhares de vascaínos. Sim, da mesma forma que torcedores construíram o nosso estádio, 95 anos atrás, fomos nós que também “construímos” essa estátua. Melhor que tenha sido assim. Afinal, a estátua é do ídolo, mas o orgulho é da torcida.
Roberto Dinamite reúne números que impressionam. A começar pelos 21 anos em que jogou pelo Vasco, totalizando incríveis 1.110 jogos, marca que, arrisco dizer, jamais será superada por outro jogador em um único clube de futebol. Gols foram 782, sendo 708 pelo Vasco. Títulos, 37 (29 pelo Gigante). Somam-se ainda o título de maior artilheiro do Campeonato Brasileiro (190 gols), maior artilheiro do Campeonato Carioca (279 gols), maior artilheiro do Vasco (708 gols), maior artilheiro de São Januário (184 gols), e maior artilheiro dos clássicos Vasco e Flamengo (27 gols), Vasco e Fluminense (36 gols) e Vasco e Botafogo (25 gols).
A admiração por Roberto Dinamite, no entanto, não se limita a esses números. É bem mais do que isso. Quem o viu jogar sabe o quanto se dedicava em busca da vitória, o quanto atuava de forma coletiva e respeitosa, tanto com os demais companheiros quanto com os adversários. A mim, o que mais encantava era a disposição e a resiliência em enfrentar o rival, em uma época de expressiva disparidade técnica, além de outros fatores extracampo.
Na minha cabeça (e na de muitos vascaínos), Roberto era aquele super-herói que sempre nos salvaria dos “perigos”, independente da dificuldade. Se do outro lado havia Zico, Adílio, Tita, Júnior e outros craques, nós tínhamos o Dinamite. E muitas vezes ele nos salvou. A mais emblemática foi naquela quarta-feira chuvosa de 2 de dezembro de 1981, quando o grito de “é campeão” da torcida rival já ecoava pelo Maracanã, e ele (sempre ele) marcaria o gol da vitória aos 43 minutos do segundo tempo, o mais comemorado por mim até hoje.
Por tudo que fez pelo Vasco da Gama, sua estátua em São Januário é uma espécie de cumprimento do dever, pagamento de uma dívida. Se, de fato, as últimas décadas têm sido amargas para o Gigante da Colina, o reconhecimento ao nosso ídolo conforta a alma e fortalece o sentimento de gratidão.
Obrigado por TUDO, Roberto!
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