As eleições presidenciais realizadas após a redemocratização foram majoritariamente precedidas por relevantes discussões – sobre temas econômicos e sociais – promovidas pelas maiores forças políticas da época, o PSDB e o PT.
Políticas econômicas voltadas ao controle da inflação e do déficit público marcaram os discursos eleitorais e os governos tucanos. As diretrizes eleitorais e os governos petistas caracterizaram-se por uma maior intervenção do Estado na esfera econômica e por políticas sociais de redistribuição de renda.
A evidente exceção à regra de prevalência de temas econômicos e sociais nas discussões pré-eleitorais verificou-se na eleição presidencial de 2018. À época, momento auge do lavajatismo, a pauta anticorrupção dominou as discussões e foi – ainda que não a única – decisiva para o resultado da eleição para presidente da República.
Os eleitores, induzidos a crer que a difícil situação econômica e social vivenciada teria como causa maior atos de corrupção, acabaram por dar pouco relevo aos projetos eleitorais dos candidatos.
Aos “CPFs”, como se diz no jargão bolsonarista, prometeu-se apenas “acabar com tudo que está aí” ou “acabar com a mamata”. O que isso significa é impossível precisar, mas bastou para convencer a maior parte do eleitorado.
Diferentemente, para alguns setores econômicos aliados, a chapa vencedora prometeu benesses durante a campanha, como a ampla desregulamentação de atividades. Exemplo disso foi o prometido – e implementado sem demora – processo de enfraquecimento e revogação de normas de proteção do meio ambiente, que também pode significar, nas difundidas palavras do ainda (!) ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, “passar a boiada”.
Agora, o cenário possivelmente será outro.
A recorrentemente noticiada piora das condições materiais dos membros das classes C, D e E, aliada ao esvaziamento do discurso bolsonarista anticorrupção, decorrente de denúncias como a das rachadinhas, a envolver o clã presidencial, e a do orçamento secreto, espécie, segundo dizem alguns, de mensalão, permitem acreditar numa discussão pré-eleitoral no próximo ano com teor prevalente diverso do da disputa de ideias do último pleito presidencial.
O preocupante cenário econômico e social atual é apontado como uma das causas do aumento da reprovação popular do presidente Jair Bolsonaro, o que sugere que, se mantido, será relevante para a definição de quem será o próximo mandatário da República.
Problemas econômico-sociais como o aumento do número de pessoas em situação de miserabilidade, do preço dos alimentos, do desemprego e da informalidade, que não se resolvem rapidamente, merecerão ser discutidos pelos aspirantes à presidência.
Para isso, devemos, em 2022, pressioná-los, pelos hoje fartos meios eletrônicos disponíveis (redes sociais para isso não faltam), a participar de debates, como antes era praxe. Somente assim, com as ideias dos candidatos contraditadas pelos seus adversários, poderemos ter maior segurança ao decidirmos o nosso voto.
A sociedade não só merece como tem o direito de ser esclarecida pelos candidatos quanto aos meios previstos para amenizar as suas maiores dificuldades, inclusive de sobrevivência. Sem a exigência, pelo eleitor, da apresentação de efetivos projetos de governo durante a campanha, a cobrança de resultados a posteriori perde força. A assinatura de procuração em branco costuma não trazer bons resultados.
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