
Mallarmé disse que os mapas eram obra de sua paciência. Carlos diria o oposto: são obras de sua paixão. Lívia, mais que a mulher, é o território que ele descreve:
Achei o sul do teu país
No mapa azul do olhar
E descobri teu mais feliz
Indistintíssimo lugar
O lugar descoberto é a essência. Mas Carlos não se satisfaz com profundidades vagas. Quer também a aparência, a superfície, a pele:
Busquei na tez do teu lençol
A tal da nudez que há
Na nova cor do novo sol
Com um calor que me fará
O verbo encerra o verso. Transitivo. Ou seja: não encerra. Pede um objeto. Um outro verso. Uma outra estrofe. O que lhe fará o novo sol? Como ele estará após conhecer a tal nudez?
Alucinado exatamente por quem
Tem se perdido em voos altos de amor
Inalcançado, inalcançável e além
De teus sentidos mapeando meu corpo
Amor? Voos altos? Além dos sentidos? Carlos pôs o poema sob o travesseiro e se foi sem que Lívia acordasse. Ainda ardiam em seu corpo as marcas da noite. A última estrofe ousa indicá-las. São lugares, caminhos, fronteiras:
Arrepiado
Ocidental
Todo marcado pelas linhas que fez
Tua mais minha liberdade final

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