Arte

Mero destino

Mero destino
Arte de Luana Plebani (@lp__artes no Instagram)

Morro das Antenas, seis da manhã. Há restos da noite azul nas costas das nuvens baixas, o orvalho frio na face de cada folha, a solidão espalhada pela clareira do vale. O sol nascendo é apenas triste e o dia, sua grande obra, não durará pra sempre.

Por que não vou embora? Por que não largo tudo, minha mãe & meus amigos, meu cachorro & meu trampo, e me mando? Por que não fujo morro abaixo, com meus documentos & minha bicicleta, em busca dum novo destino? Até o porto, até um porto na outra borda do mar, até um outro pico na manhã dum outro continente, dum outro hemisfério? Por que não deixo Jaraguá pra sempre?

O futuro é tão vasto que me paralisa. Tento afastar as nuvens do horizonte. Mas há sempre tantos horizontes que eles se embaralham. Todos os caminhos estão abertos. Há riscos demais no mapa que desenho no chão.

Norte: chapada em Diamantina e Amazônia. Delírios verdes e cristais.

Leste: África. Dali ao Irã, à Índia. Talvez Alá.  

A oeste, saltando os Andes, o pacífico. Haverá uma ilha numa das mil polinésias da polinésia geral. Nesta ilha, uma mulher. Nesta mulher, um filho. Escrevo um poema pra ele. E morro.

Morro de frio, e de cara, se vou ao sul.

Ergo a face. O sol já alto. Percebo enfim: há pessoas em volta. Lá embaixo Jaraguá cacareja um burburinho de máquinas. Apago o mapa com a sola dos pés. Respiro.

Tenho a força de me levantar. Tenho meus documentos & minha bicicleta. Tenho olhos vidrados que refletem alguma cor. Neles, nos meus olhos, pousa o olhar de alguém risonha e curiosa. Isso me acalma. Decido seguir meu mero destino: simplesmente descer até a cidade. Mas só depois de perguntar o nome dela.

Werner Schön

Werner Schön tenta fazer literatura. Em Jaraguá do Sul.

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