O ano de 2021 se encerra de forma oposta para dois clubes que se diferem na dimensão, na grandiosidade, mas que se assemelham no modo de ser, nas conquistas quase sempre sofridas e na paixão interminável de seus torcedores: Avaí e Vasco.
Em Florianópolis, até mesmo as raízes da famosa figueira da Praça XV de Novembro sabem que o legítimo Mané da Ilha carrega, entre os principais atributos, o amor por esses dois clubes. E pelo Gigante da Colina – ressalte-se –, essa paixão foi predominante até o fim do século passado. Não sem razão, foi o Vasco o ilustre convidado para inaugurar, em 1983, o belo estádio da Ressacada. Os últimos 20 anos, no entanto, têm sido devastadores, e percebe-se há tempos que o “time da virada” já não habita tanto o coração das novas gerações manezinhas.
O contraste entre Vasco e Avaí se acentua em outras áreas. A sucessão presidencial é um bom exemplo. Se em São Januário as eleições são seguidamente decididas na justiça e o presidente nomeado costuma demonstrar pouco conhecimento para o cargo ao qual foi alçado, no Sul da Ilha, o último pleito eleitoral consagrou a transparência e o resultado das urnas. De lá, emergiu um jovem presidente que promete modernizar os processos internos e proporcionar novas conquistas aos Avaianos.
Dentro de campo, a discrepânica é ainda maior. O Leão da Ilha orgulha-se de mais um acesso à Série A (o quinto neste século) e das agruras do co-irmão, “preso” por mais um ano na terceira divisão. Já o Gigante da Colina vive longo período de infortúnio. Ao quarto rebaixamento à Série B em inacreditáveis 14 anos, soma-se a permanência por lá em 2022, e as conquistas recentes do eterno rival, ainda que neste final de ano o “Cheirinho” tenha retornado à normalidade (com a bênção do bom Jesus amado).
Observação importante: antes que algum leitor raivoso venha me xingar, desde já esclareço que a paixão do torcedor se alimenta basicamente de dois fatores: o sucesso do seu time e o sofrimento do rival. E acredite: muitas vezes a derrota “deles” é mais comemorada do que a “nossa” vitória. Torcedor é assim. E mesmo que a modernidade chata trazida ao futebol tenha reduzido essa prática, aos torcedores-raiz, ela permanece inabalável.
Para mim, Vascaíno e Avaiano muito antes de nascer, a situação de ambos causa perplexidade. Acostumado a vê-los em posição invertida, rezo para que o Vasco retome urgentemente seus dias de glórias e possa fazer sua imensa torcida bem feliz. Ao Avaí, o desejo para que, enfim, se consolide como uma das novas forças do futebol brasileiro. Ambos os desafios são árduos, mas nada que abale a confiança de um coração que abriga essas duas paixões.
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