Informação

Os golfinhos das Ilhas Faroe

Os golfinhos das Ilhas Faroe
📷 Sea Shepherd Faroe Islands, via Facebook⁠

Os cadáveres de cerca de 1.500 golfinhos estão enfileirados na praia. Nas águas de uma pequena enseada das Ilhas Faroe, no Mar do Norte, há uma enorme mancha vermelha de sangue. A pequena multidão está em êxtase: foi o maior massacre da história. 

O massacre repete-se todos os anos, ritualístico. Chama-se “grind”. Vários barcos cercam os cardumes de golfinhos e os encurralam na pequena enseada. Os pescadores em terra matam os cetáceos. Seus cadáveres são trazidos até a praia onde são expostos em celebração da caçada. Depois, eles dizem, são “consumidos” pelo povo local. 

Jamais tantos golfinhos haviam sido mortos no macabro ritual. O recorde anterior era de 1.200 animais em 1940. Todos os anos a matança é contabilizada e celebrada. A prática é permitida. As leis das Ilhas Faroe a reconhecem como atividade ecologicamente sustentável e como herança cultural. 

Não são poucos, nem maus, os argumentos em defesa dessas leis. Embora todo ano haja o “grind”, eles dizem que as populações locais de golfinhos têm aumentado. Por outro lado, dizem também, a caçada é expressão da identidade do povo feroês. 

Este último argumento é mais forte. A submissão dos animais às necessidades do homem é um dado básico da civilização. A cultura, o produto intelectual e compartilhado desse processo histórico de adaptação da espécie, é um aspecto central da vida humana. O ritual, macabro ou não, celebra a história desse povo. Uma história que não existiria não fosse a caçada de golfinhos em cada ano dos seus tantos séculos. 

Há um dado a mais: todos os dias, em todos os países do mundo, milhões de animais são abatidos para satisfazer as necessidades dos homens. Por que causa tamanha comoção, eles perguntam, a morte desses poucos golfinhos? Por que tanto alarde em torno dum ritual tão irrisório?

Difícil dizer. Talvez porque esse ritual seja uma crueldade desnecessária. Talvez porque nos cause repugnância a visão dos cadáveres na praia e da mancha de sangue no mar. Talvez porque imaginemos cada golfinho sofrendo a morte lenta e dolorosa sob as gargalhadas da multidão. 

Mais que tudo, nós mesmos somos o objeto dessa dúvida. Nós, os homens. Na corda bamba esticada entre o passado e o futuro. Diante de um horizonte em que os exemplos de nossos ancestrais se alternam com os sonhos de nossa descendência. Sobre um abismo que parece ecoar essa nossa dualidade aparentemente insuperável. 

Comentários:

Ao enviar esse comentário você concorda com nossa Política de Privacidade.