Desde a era muda do cinema a preocupação em atingir as mais variadas idades torna-se necessária entre os estúdios. Tanto que os filmes em animação, primordialmente manual e repetitivo, tornaram-se um refúgio cultural para os infantes. Com o avanço tecnológico e uso de outras técnicas, além de cabeças pensantes por detrás da computação gráfica, essa taxação de “filme de criança” mudou, ainda bem. Atualmente, as animações têm classificação etária e servem, em regra geral, para se assistir em família e discutir os vários subtemas propostos (confesso que sou um entusiasta do gênero).
Com a pipoca preparada, vi as cinco indicadas a Melhor Animação do Oscar 2022 (que iniciou a premiação desta categoria em 2001) e expresso minhas considerações nestas mal traçadas linhas. São opiniões particulares que refletem meu sentimento no momento, que podem (e devem) ser questionadas e não tidas como verdade absoluta. Inclusive, as notas dadas no final são para me guiar dentro da minha análise cinematográfica. Não me levem a sério (ou não) e assistam a todas as animações. São elas, em ordem alfabética do título em português brasileiro:
A FAMÍLIA MITCHELL E A REVOLTA DAS MÁQUINAS Um filme de celebração que demonstra a importância de cada um de nós dentro da nossa sociedade, mesmo se frequentamos “tribos” diferentes. E, assim como a vida se modifica em função do progresso, a instituição familiar também se sobrevive numa constante mudança, gravada em colagens brilhantes de memórias e afetos. Apesar da previsibilidade da trama e do ultramoralismo, o recado da união em família é encantador e repleto de criatividade, num ritmo frenético e cores fabulosas. As referências culturais do universo pop trazem um quê de modernidade futurística que a obra propõe e são uma delícia. Boa animação! Nota 7,5.
ENCANTO Na esteira de desmitificar os contos de fadas de reis, rainhas, príncipes e princesas, a Disney, conhecida por sua excelência na produção de animações, toca num tema ardiloso mas urgente – a instituição familiar. Sem conotações do lar como refúgio doce e acolhedor, a questão abordada é: o quanto conhecemos as pessoas da nossa família? Ou melhor, o quanto nos conhecemos dentro das nossas relações familiares? Sob o mote da opressora colonização latina (especificamente a colombiana) e baseada na terapêutica constelação familiar (ordem, pertencimento e equilíbrio), esta bela obra apresenta diversas camadas de representatividade e aceitação que se discutem entre si. Porém, falta força na magia esperada do filme, pois tudo se resolve fácil demais. Só que, mesmo assim, funciona e encanta. Nota 8,1.
FLEE: A FUGA Um excelente documentário em animação sobre a vida de um homem homossexual fugido do Afeganistão que encontrou abrigo e amor na Dinamarca. Um capítulo extraordinário de uma vida comum e bastante costumeira de países que sofrem com guerras, num mix de ficção e realidade documental bem interessante e sensível. Longe de ser inédita ou autoral, esta obra explicita o tratamento dado aos refugiados na Europa sob um olhar mais evasivo e sem rancor. Talvez, por isso, a narrativa se mostra um pouco monótona, porém, eficaz na liberação de memórias apagadas pelo trauma de fugir pra sobreviver. Interessantíssimo! Nota 8,0.
LUCA Nesta obra doce, gentil, suave e generosa, celebra-se a amizade, cuja importância é primordial no combate aos desafios da vida. Assim como acentua-se o acolhimento aos diferentes e se fortalece com isso, sempre sob o arrimo do amor da família e a lição de que aprender nunca é demais. Menos pretensioso e parecendo buscar ligações com outros filmes do gênero, ‘Luca’ flutua num mar de tropos animados. Ademais, há furos no roteiro e leve incúria nas (falta de) explicações de alguns temas abordados, por se tratar de um interessante estudo de identidade. Porém, o produto final é válido, adorável e caloroso, como se fosse banhado de sol da Itália. Em suma, seja você mesmo, porque sempre vai haver quem lhe critique. Mas também sempre haverá quem lhe apoie. Nota 7,5.
RAYA E O ÚLTIMO DRAGÃO A excelência Disney em animações se ratifica neste belo e emocionante filme, que, tecnicamente, é um primor, principalmente no casamento da eficiente sonorização com os lindos planos digitalizados que mais parecem cenários reais. Excluindo a trama boba e a linha narrativa meio atabalhoada (ora apressada – nas relações interpessoais – ora estendida – o prólogo é muito inchado), o saldo é positivo e tem uma importante mensagem: aprendermos a confiar mesmo em situações adversas. E o final, tanto emocional quanto artisticamente, é forte e marcante. Uma obra que diverte, cativa e nos dá uma heroína independente que esbanja carisma e otimismo. Nota 7,5.
Portanto, ENCANTO, de Charise Castro Smith, Byron Howard e Jared Bush, é o meu preferido por um décimo. Mas ficarei satisfeito com qualquer vencedor, pois são excelentes obras que nos obrigam a repensar nossos modos e ideias de vida, em qualquer idade e região. Que a Academia esteja iluminada em sua escolha!
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