
Eu sei de onde vim, não pela genética
Que é só um destino
Eu sei que você é meu Pai
Que eu carrego em mim a herança do teu jeito de costurar os tapetes
Linhas que vão e vem numa insistência que bordam gestos, palavras, memórias
A vida é assim
Teimosia
Um fio, barbante contínuo que não amarra
Enlaça pela trama fazendo pequenos gomos, macios, uniformes, estáveis
Um desenho geométrico, matemático, que é teu melhor
Faz contas de cabeça, qualquer conta, calcula e traça exato um resultado ali, em ato
Queria ter essa habilidade
Não tenho
Mas levo comigo teu jeito de costurar tapetes
Tu destro, direito
Eu sinistro, esquerdo
Não pude aprender olhando
Aprendi sentindo
Que é assim, Pai
Fiz das palavras meu fio
Herança
E quando eu crescer quero ser
Assim
Fazedor de teimosias
Contador canhoto
Que a vida é assim
Um fio
O resto é destino
Herança.
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