
Saiu do Nens quando quase amanhecia. Sozinha em casa rabiscou letras no prato. Pensou em dormir mas não podia. Sentiu agonia de fato.
Sentiu até que já perdia a mais sutil capacidade do tato. A mão pálida e trêmula e fria. O pão sobre a mesa, intacto.
E viu enfim que assim se via. Ela, a si mesma, vendo-se em ato. E via-se tanto que tremia. E tanto tremeu que fez um pacto.
Um pacto com um deus que refletia à luz vazia do momento exato em que uma gota caiu na pia: impacto.
Ela chorava, sim, e sentia o quanto isso era insensato. Mas viu na insensatez uma ousadia. E ousou sentir de novo o gosto inato.
O gosto bom da vida que seguia bem diante do olhar estupefato. A vida espalhada na luz do dia. A luz que coloria o rosto grato.
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