Opinião

Vítor Véblen: A volta de LILS.

A última semana foi marcada por um evento cataclísmico: a volta do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao palco central da nação. Essa volta – e sobretudo esse ‘palco central’ – são metafóricos: LILS sempre esteve por aí, em ‘palcos periféricos’; e na verdade não existe ‘palco’ algum: existem as grandes Instituições – o Judiciário e a Mídia entre elas – e seus holofotes. Por alguma razão, esses holofotes voltaram a iluminar o petista. Pela mesma razão, isso se deu na semana passada. Esta coluna tenta compreendê-la – ela, a razão.

A volta da LILS dá início ao confronto tão aguardado. Muitos achavam que ele aconteceria somente na eleição de 2022, e somente no segundo turno. Outros esperavam que nunca acontecesse. Uns e outros estavam errados: o confronto – a luta, a briga, a guerra – começou. LILS versus JB. No palco central da nação.

É imprevisível o desfecho desta guerra. Mas algo é certo: o anterior Presidente é quem melhor pode confrontar o atual. Ambos são figuras de enorme, titânica estatura política. Ambos se apoiam em narrativas antípodas, que se embatem em cada um dos seus inúmeros elementos. Ambos projetam os valores cuja disputa definem nosso momento histórico. Diante do bolsonarismo, a resistência não tinha cara nem voz: era um coro amorfo, contraditório, caótico. Agora tem.

Todos entenderam isso. JB também entendeu. E acusou o golpe: a queda de Pazuello é talvez o principal, mas decerto não o único, sinal disso. O Presidente pode ter grandes e inúmeros defeitos, mas tem uma qualidade inequívoca: sabe reconhecer o inimigo, sabe compreender a guerra. Vamos ver se sabe lutá-la. Até agora, esteve nas trincheiras de um mecanismo eficiente de difusão de narrativas, contra um inimigo desordenado, difuso, quase abstrato. Agora enfrentará um inimigo concreto, que o intima à batalha campal.  

Esta batalha, entretanto, nem JB nem LILS a deflagrou. Algo ou alguém decidiu que agora, nesta última semana, ela teria início. Este é o “detalhe” que intriga. Seja quem for, esse algo ou esse alguém tem uma razão pra isso. Esta razão, eu a ignoro; mas me permito cogitá-la; e ouso submeter minhas cogitações ao leitor.

LILS e JB devem realizar uma guerra sangrenta. Não apenas porque ambos são contendores irascíveis, capazes dos golpes mais duros. Mas sobretudo porque a guerra tem como pano de fundo a crise, a miséria, a pandemia. Um pano de fundo que sangra. E nisto não há metáfora alguma.

Às vésperas da eleição, em 2022, JB e LILS podem estar rotos, machucados, encharcados de sangue. E então, em meio a eles, pode surgir um terceiro: limpinho, cheiroso, falando palavras tênues a um público, também ele, exausto da guerra.

Há mais: do confronto entre LILS e JB pode surgir, antes de 2022, um vencedor. Ou melhor: um deles pode restar, antes mesmo da eleição, inequivocamente vencido. Então aquele ‘terceiro’, limpinho e cheiroso, terá acesso ao segundo turno. E aí, diante de JB ou de LILS, terá imensas chances de vitória.

A volta de LILS, o confronto com JB, a guerra eleitoral antecipada – tudo isso atende a uma razão clara: evitar que um e outro, JB e LILS, governem o país a partir de 2023. Parece-me uma estratégia inteligente desse algo – ou desse alguém – que decidiu deflagrar essa guerra agora. Parece-me que ele, esse algo ou esse alguém, tem ótima noção de ‘timing’. Resta saber se ele está ciente de todas as variáveis. Até porque há uma que deveria assustá-lo: o vencedor dessa guerra, justamente por causa dessa vitória, pode se tornar imbatível; e nossa democracia, nesse caso, poderá estar ameaçada como nunca.  

Vítor Véblen

Vítor Véblen é iniciado em literatura política. Viveu em Chicago, onde estudou economia. Mora atualmente em Joinville.

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