Opinião

Vítor Véblen: O dominó e o xadrez.

Vítor Véblen: O dominó e o xadrez.

Os movimentos de Bolsonaro nesta semana têm intrigado todos nós. Seis ministros caíram como peças de dominó. Inclusive o Ministro da Defesa, General Fernando Azevedo e Silva. Com ele, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Uma troca de ministros assim ampla é raríssima. Uma mudança assim drástica na cúpula das Forças Armadas, rigorosamente inédita. Bolsonaro mexe as peças no tabuleiro. Esqueça o dominó: estamos falando de xadrez.

As análises sobre esses movimentos dividem-se em dois grupos. De um lado, há os que enxergam o enfraquecimento de Bolsonaro – e entendem que as mudanças refletem desespero. De outro, os que vislumbram a tentativa de formar um governo mais coeso – e, assim, de criar as condições para um golpe.

Em ambos os lados há boas análises. De fato, há algo de assustador no suposto apoio que Bolsonaro tem junto ao “baixo clero” das Forças Armadas. As polícias militares também parecem ser redutos bolsonaristas. A tentativa de controlá-las é, sem dúvida, uma obsessão do Governo Federal; o projeto que pretende alterar a Lei de Mobilização Nacional, de autoria do deputado Major Vitor Hugo (PSL), é só mais uma evidência disso. A partir das bases, Bolsonaro poderia liderar os militares. Daí ao golpe, seria um passo.

Entretanto, também é verdade que Bolsonaro nunca esteve tão fragilizado. Sua popularidade derrete. Os grandes empresários já parecem temê-lo. A cúpula das Forças Armadas, como ficou claro nesta semana, não respalda seus arroubos. Segundo essas análises menos alarmantes, jamais foi tão claro o isolamento do Presidente, cujo apoio restringe-se a olavistas fanáticos e militares fisiológicos. O golpe, concluem, jamais foi tão improvável – ou tão propenso ao fracasso. E arrematam: o discurso golpista seria uma espécie de blefe; Bolsonaro se protege adotando a velha tática de amedrontar seus opositores.

Quanto a mim, partilho dos temores das primeiras análises; e concordo, em geral, com as conclusões das segundas. Mas acrescento um fator que, parece-me, tem sido relegado: o famigerado “centrão”. Sinto que os movimentos recentes têm a assinatura de Arthur Lira e seus acólitos. As mudanças ministeriais, mais que tudo, atendem à fisiologia típica da velha politicagem. As trocas na cúpula das Forças Armadas talvez reflitam a insatisfação com o avanço das hostes “centristas” sobre o Governo Federal. As ameaças de golpe, que causam ainda mais espalhafato num 31 de março, talvez sejam só blábláblá: cortina de fumaça pra esconder os intestinos da República.

Segundo essa última análise, mais atenta àquele “fator relegado”,  também Bolsonaro é uma peça do tabuleiro – um reizinho do pau oco – movida por mãos escusas. Se isso é verdade, o jogo agora entra numa fase mais obscura. Se esse é o arranjo à base da República, um Bolsonaro definitivamente digerido pela politicagem mais vulgar, então essa vulgaridade passa a ter um tremendo poderio. Em suma: se os braços longos do “centrão” definem os movimentos desse xadrez, então talvez estejamos fadados a um jogo intragável – e a uma derrota acachapante.

Vítor Véblen

Vítor Véblen é iniciado em literatura política. Viveu em Chicago, onde estudou economia. Mora atualmente em Joinville.

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