Opinião

Vítor Véblen: O maior pesadelo da humanidade

Vítor Véblen: O maior pesadelo da humanidade
Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil

Todos sabem que a Pandemia trouxe, além de muita tristeza, muito prejuízo. Mas existem aqueles que, se não alegria, têm tido bastante lucro nesse período. Como diz o provérbio, “enquanto uns choram, outros vendem lenço”. Nenhum problema nisso. É natural, mesmo nos piores cenários, que exista quem prospere. O que realmente intriga é o seguinte: durante a pandemia, foram justamente os mais ricos que ganharam (ainda) mais. Mais até do que normalmente ganhariam – pois, você sabe, eles normalmente enriquecem.

Levantamento da consultoria PwC publicado em outubro apontou que a fortuna acumulada das pessoas mais ricas do mundo, que integram o seleto grupo dos bilionários, cresceu vertiginosamente nos últimos meses e ultrapassou a marca dos 10 trilhões de dólares. Considere, apenas para ter uma noção do que significa esse valor, que ele é superior ao PIB da China. Não custa repetir: o PIB da China!

Há mais. Recente reportagem do Wall Street Journal mostrou que o valor acumulado das Big Tech’s, Google e Amazon e outras poucas gigantes, jamais aumentou tanto como no último ano. Não basta dominar o mercado vital da comunicação digital: é preciso lucrar delirantemente.

Enquanto isso, segundo relatório divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em dezembro, o número de seres humanos miseráveis pode chegar a um bilhão no fim da década. O adjetivo “miseráveis”, no caso, predica as pessoas cuja pobreza, de tão extrema, nenhum outro ser humano deveria admitir. Em outras palavras: não deveria haver um único ser humano miserável; mas, em breve, haverá mais de um bilhão. Não custa repetir: um bilhão!

A desigualdade entre ricos e pobres cresce assustadoramente. A distância a separá-los talvez se torne irreversível. Essa irreversibilidade é o maior pesadelo da humanidade: um abismo tão fundo que, afinal, faça os que estão do lado de lá, os ricos, esquecerem os do lado de cá, os outros. Diante desse esquecimento estará em jogo a própria condição humana. O lado de lá pode atribuir tal condição apenas aos que lá estão. Ou pode atribuí-la a nós, os que estamos deste lado; e então arrogar-se uma condição superior, super-humana – em todo caso, perversamente doentia. Parece uma distopia, eu sei. E é.

A covid não é a única doença que nos assola neste momento histórico. Nem a pior.

Vítor Véblen

Vítor Véblen é iniciado em literatura política. Viveu em Chicago, onde estudou economia. Mora atualmente em Joinville.

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