Ele desceu das nuvens e pousou em Jaraguá. Um tênue rubor cintilava em sua tez adolescente. A luz de seu sorriso acariciava o vale inteiro. Após o espancamento, entre sangue e escarro, seus olhos azuis suplicaram:
– Misericórdia!
Então o matamos. Não queríamos ver ninguém sofrendo.
Me abordou na esquina da Domingos com a Reinoldo:
– Ei, moço, você não é o Adolar?
Adolar? Isso lá é nome? Quem é essa galega?
– Depende. O que você acha do Adolar?
Ela riu. Não tinha dentes bonitos. Mas peitos.
– Seu bobo! Como é seu nome então?
Eu disse um qualquer: Francisco. Ela era Ivete, tinha um shortinho sobre belas coxas.
– E aí, Ivete, tá a fim de inventar alguma?
Arrisquei tudo. Dei até as opções: o parque, o morro da antena, uma cachô em Corupá.
– Prefiro um lugar com ar condicionado.
Entendi. Pegamos a estrada pra Pomerode. E uma suíte com banheira.
– Ivete, me diz: quem é esse Adolar?
Seus olhos azuis pousaram no teto, malandros. Ela ainda ofegava. Não existia nenhum Adolar.
– Não vai, Pérsio, não vai!
Ele não deu bola. Ergueu a asa do chão. Fechou os olhos e sentiu o vento.
– Porra, Pérsio, tu acabou de fumar!
Ele abriu os olhos. Reparou nos urubus. Não ouviu o que eles disseram.
– Pérsio, tu tá louco cara! Tá frio, porra!
Um bafo quente mexeu a relva. Ele desceu a rampa convicto. E voou.
– Pérsio! Eu falei, caralho, eu falei! Responde, porra! Pérsio!
Ele não respondeu. Da garganta do morro nunca saiu um silêncio tão fundo.
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