Arte

De repente,

vi que a gente nunca está pronto. Nem o texto ou o poema, nem o escritor ou poeta, nunca pronto, longe de estar pronto. Sempre uma obra inacabada, sempre por fazer, sempre por avançar, seguir, ir, sempre. Ah, e como é bom quando está pronto, o pão, o bolo, a louça, o trabalho, a obra… quando está pronto, que beleza, é só virar a página e comer o bolo, apresentar o trabalho, receber pelo trabalho, contemplar a obra ou a pia vazia. Mas lá no fundo, a gente sabe, sabe que não está pronto e faz mesmo assim, sabe que poderia ter feito mais, melhor, que poderia ter feito de outro jeito, que poderia ter feito qualquer coisa que seria melhor, maior, mais completo, mais impactante. Sabe que se mudasse o tempo, o risco, a cor ou a ordem de algumas coisas, seria diferente, mais bonito, mais limpo, mais eficaz, mais qualquer coisa. Sabe e mesmo assim desiste de continuar mexendo, mudando, indo e voltando, recomeçando, apagando, riscando, cortando, colando, cansando. E os dias estão por demais assim, incertos, inacabados e mesmo assim, a gente vive. Um eterno meio do dia, um sem-fim que não é começo, um meio, tedioso, incerto, sem as emoções de qualquer começo e sem nada de qualquer fim, de acabar, resolver, terminar. Dia de guerra onde nunca há vencedor, um longo e pesado dia quente por aqui nos trópicos. E a gente diz: “sextou!”, fica feliz com o passar dos dias, toma uma cerveja, fala de futebol, de música, encontros. A gente, no meio desse sem-fim, se apaixona, bebe um café, tem medo e resiste, ah, como resiste. É uma luta e a gente sabeque a pia nunca ficará vazia enquanto houver vida na casa.

Wagner Rengel

Wagner Rengel quis ser silêncio depois pássaro depois peixe depois vento depois grilo quis ser gente depois nada. Mora em Curitiba.

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