Publicado por Victor Emendörfer Neto
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Não, o Figueirense não faliu. Nem vai falir. Seu torcedor pode ficar calmo. A crise que assola o Clube é grave, tanto que motivou o pedido de recuperação judicial; mas a falência é algo que acontece com empresas – e o Figueirense, como qualquer outro Clube de futebol, não é uma. Justamente por isso a ação de recuperação judicial foi rechaçada: um clube não pode ajuizá-la.
A palavra no título deste texto tem um sentido conotativo. Tenho consciência de que, mesmo nesse sentido, ela pode gerar alguma confusão. Afinal, a falência sugere uma crise irreversível; e, embora grave, a crise do Figueira pode ser revertida. Ao escolher aquele título, não quero figurar uma situação que poderia estar ocorrendo. Quero alertar para algo que pode vir a acontecer: uma crise tão grave que, não é exagero dizer, preocupa mais que a falência.
Este alerta se deve ao meu apreço pelo time. Morei em Florianópolis por longos anos. Embora nunca tenha me tornado um torcedor, frequentei muito o Scarpelli. Gostava de ficar junto à charanga do pessoal da Coloninha, que batia no ritmo do time (ou talvez o time jogasse no ritmo da charanga, sei lá). Eu me diverti lá. Vi muitos bons jogos. Conheci de perto – de dentro, na verdade – a torcida. Desenvolvi enorme simpatia por ela. Quero muito que o Figueira supere a crise.
Donde o alerta. Eu trato, neste espaço, de assuntos de interesse das empresas. Nas colunas anteriores falei sobre os riscos que assolam os empresários. Esses riscos, eu dizia, podem trazer a crise; e a crise pode determinar a falência. Se falo agora do Figueirense, não é porque me tornei um colunista de futebol (eu não conseguiria sê-lo), mas porque o caso é interessante (inclusive, e sobretudo, desde a perspectiva que adoto neste espaço). A crise do Clube tem diferenças notáveis em relação àquela que eventualmente acomete as empresas; e saber disso pode ser muito instrutivo – aos torcedores e aos empresários.
Nos clubes de futebol a crise, por mais grave que seja, não conduz à falência. Esses clubes não têm donos: tem dirigentes, que sempre mudam. Embora possam sofrer um processo de insolvência (que, no fundo, é semelhante à falência), os clubes não podem morrer. Afinal, têm ativos de valor inesgotável: a história, a torcida, o prestígio.
Por isso, a situação do Figueirense, e de outros clubes como o Botafogo e o Vasco, é mais e menos grave que a de qualquer empresa que enfrente uma crise profunda. Menos grave porque não há risco de “morte”: ainda que a pessoa jurídica “morresse”, o que seria um desfecho dramático (e, no Brasil, inédito; fora do país, há o exemplo do Rangers da Escócia), a Instituição não morreria. Mas também é mais grave, pois a crise pode se tornar um poço sem fundo: o que é ruim sempre pode piorar.
Se fosse uma empresa, o Figueirense teria fatalmente obtido algo como uma moratória da dívida; e, se afinal falisse, tudo se resolveria numa liquidação patrimonial – até que sua “personalidade jurídica” desaparecesse. Mas o Figueira não vai desaparecer. Não existe essa possibilidade. Então vai ter que conviver com a crise indefinidamente; e, se não superá-la, sua torcida viverá um martírio.
Eis a lição que o caso encerra: às empresas, a crise pode ser fatal; aos clubes de futebol, ela pode ser uma doença que se perpetua – e que, embora não mate, pode sempre se agravar. Os empresários, a quem seguirei dando conselhos neste espaço, podem superar uma crise, ou podem falir em razão dela. Ao Figueira só resta superá-la.
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