
Os cadernos bagunçados na beirada da mesa acumulam palavras perdidas
Os lápis e canetas boiam como barcos numa baía, ancorados
Histórias prometidas que seriam contadas giram em caos atrás dos olhos
Uma borracha branca e gasta é a marca do pênalti num campo vazio
Sobre a cadeira, flutua um corpo complexo, talvez mais do que isso
Diante de tudo, uma folha em branco com linhas azuis aguarda a novidade
E a novidade é um grito levado pelo impulso mais sincero
Os braços cúmplices alcançam tudo e derrubam estabilidades
Cadernos voam embora, abrindo asas de gaivotas
Lápis e canetas lançam-se em torpedos desesperados, mirando muros bárbaros
A borracha, testemunha de tantos erros, se agarra na mesa e espera o próximo trabalho
A folha assustada recebe apenas um olhar afogado
O corpo permance ali, tencionado, erguido e paralisado
A cadeira de pernas para o ar revela suas vergonhas e seus cupins perversos
Despe-se furiosamente, sem sentido, sem olhar
A pele, esta única verdade, experimenta o ar gelado do mundo
E contrai-se, esmaga-se numa liberdade indiferente aos restos
Tudo permanece ali, nos vãos, enquanto os olhos observam mamilos enrijecidos
Faz frio, diz a boca em tom de segredo, enquanto a mão pega uma caneta caída no chão
O silêncio é uma pedra na mão da revolução
O fim é uma nudez ética, desprotegida e humana.
O fim é a novidade.
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