Arte

A novidade

A novidade

Os cadernos bagunçados na beirada da mesa acumulam palavras perdidas

Os lápis e canetas boiam como barcos numa baía, ancorados 

Histórias prometidas que seriam contadas giram em caos atrás dos olhos

Uma borracha branca e gasta é a marca do pênalti num campo vazio

Sobre a cadeira, flutua um corpo complexo, talvez mais do que isso

Diante de tudo, uma folha em branco com linhas azuis aguarda a novidade

E a novidade é um grito levado pelo impulso mais sincero

Os braços cúmplices alcançam tudo e derrubam estabilidades

Cadernos voam embora, abrindo asas de gaivotas

Lápis e canetas lançam-se em torpedos desesperados, mirando muros bárbaros 

A borracha, testemunha de tantos erros, se agarra na mesa e espera o próximo trabalho

A folha assustada recebe apenas um olhar afogado

O corpo permance ali, tencionado, erguido e paralisado

A cadeira de pernas para o ar revela suas vergonhas e seus cupins perversos

Despe-se furiosamente, sem sentido, sem olhar

A pele, esta única verdade, experimenta o ar gelado do mundo

E contrai-se, esmaga-se numa liberdade indiferente aos restos

Tudo permanece ali, nos vãos, enquanto os olhos observam mamilos enrijecidos

Faz frio, diz a boca em tom de segredo, enquanto a mão pega uma caneta caída no chão

O silêncio é uma pedra na mão da revolução  

O fim é uma nudez ética, desprotegida e humana.

O fim é a novidade.

Wagner Rengel

Wagner Rengel quis ser silêncio depois pássaro depois peixe depois vento depois grilo quis ser gente depois nada. Mora em Curitiba.

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