
Mó doida essa parada. Nós aqui batalhando na vida e de repente ela aparece. Risca, brilha, brights. Nego se perde, se rende. Mas nego gosta. A parada é luz.
Só que luz ofusca. Pode cegar. Tem que saber lidar com a parada. Tem que fazer silêncio. Tem que ouvir a voz. A parada flui. Vaza pra fora. Goteja no vidro da mente. E já é.
É ritmo e flow. E flui. E muito. E fica assim feito um rio passando no meio da gente. Irrigando a terra seca da quebrada. Carregando as margens numa enchente amazônica. Pororoca na veia. Mó loucura.
E não adianta. Bateu, bateu. Nada a fazer. A parada é sinistra. A gente tapa o olho e ela brilha.
A gente tapa a orelha e ela grita. A gente foge e ela tá dentro da gente. Nego se perde, se rende. Mas nego gosta. Ou não. Foda-se. A parada não tá nem aí pra nego nenhum. A gente é só instrumento, a boca e a mão. A gente faz o que a parada quer.
Então pega o lápis. Fecha a porta. Se esconde dentro de si. E ouve. A parada é uma nuvem vasta que nasce no céu dos ancestrais e voa e vem e vibra o tímpano. E vira verso.
E vice-versa. Que o verso também volta e vira nuvem. E a nuvem chove. E cada gota batuca o tambor azul do céu. A dança dos ancestrais acaba nunca.
A parada é de sangue. É sagrada. Divina. Deve ter um Deus criador disso aí. Um Deus que fugiu. Mas que ainda ouve o céu batucar.
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