“Hoje verei Jesus”, disse Joana Luna, 20 anos (talvez 21), diante do espelho.
A cena remete à do Apóstolo Pedro, que negou o Mestre por três vezes. Joaninha já negou o seu Jesus pelo menos umas trinta. Desde que ele partiu em circunstâncias tão esquisitas, sempre acolitado por João de Deus. Desde que ele deixou o Flamengo pra voltar pro Benfica.
“Maldito Jota Jota”, ela esbravejava sempre que o Flamengo, com o Ceni ou com o Portaluppi, levava um nó tático de algum Cuiabá da vida. Jota Jota: assim ela apelidou Jorge Jesus. O seu Jesus – ao menos neste plano, mais profano, do futebol.
“Hoje verei Jesus”, ela repetiu às sete horas da última quarta, horário de Lisboa. Joana Luna, você talvez já saiba, mora em Portugal. Ela é uma prolífica colaboradora da Abertura e inclusive já estrelou um pequeno ensaio, veiculado há meses, em que propusemos uma imersão no contexto de uma final de Champions League. A doce Joaninha imergiu mais do que esperávamos, especialmente nos canecos de chope. Ainda assim o ensaio foi um sucesso (e as fotos ficaram ótimas). Agora ela repete a dose, ou as doses. Mas desta vez com um propósito mais alto, mais extático, mais pungente: ir ao jogo entre Benfica e Bayern pra rever Jesus, o seu Jesus, o profeta de mechas irascíveis da nação rubro-negra.
“Ir” talvez não seja o verbo exato. Melhor seria se disséssemos “peregrinar”. Pois de fato foi isso. De Coimbra a Lisboa, do espelho do banheiro às arquibancadas do Estádio do Benfica, cada passo do trajeto foi atravessado pela luz mística da iminência desse reencontro. Quando Jesus apareceu na cancha, Joana arrepiou-se. Lewandowski, Müller, Neuer – ninguém atraía sua atenção: Joana foi à Luz pra rever Jota Jota. A poucos metros de si, como dizem os lusos, as mechas irascíveis e grisalhas pareciam lhe abanar um gesto qualquer. Talvez um “adeus”. Talvez um “volto já”.
Joana Luna hoje se diz “renatizada”. Mente, inclusive pra si mesma, dizendo que não quer a volta de Jesus. “Renato é um cretino bolsonarista filho da…”, diz ela, “mas controla bem o vestiário”. Suas mentiras se proferem em vão. Todos sabemos que basta um gesto, um tênue e afirmativo gesto do português, pra que ela vá de joelhos ao chão e brade a Jesus, aos anjos, aos céus: “graças a Deus estás de volta, Jota Jota!”
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