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As manchetes da fome.

As manchetes da fome.
Guido Dingemans, De Eindredactie/Getty Images

Manchete do Jornal O Globo na última terça-feira, 5: “Fome cresce e, pela 1ª vez em 17 anos, mais da metade da população não tem garantia de comida na mesa.

No R7, portal do Grupo Record, uma manchete similar: “Fome atinge mais da metade dos lares brasileiros na pandemia.”

No Globo.com a mesma notícia recebeu este título: “Quase 117 milhões de brasileiros não se alimentam como deveriam.”

No mesmo portal, ontem (6), outra manchete destacava-se: “Número de brasileiros que vivem na pobreza quase triplicou em seis meses.

No site da CNN, em primeiro de abril, lia-se: “Inflação e pandemia podem empurrar Brasil de volta ao Mapa da Fome”. No sub-título, uma pancada: “Projeções apontam que quase 10% da população brasileira está subalimentada“.

O editorial do Estadão, há três dias, escolheu um título mais pomposo – embora não menos impactante: “O flagelo da fome.

Mesmo a Agência Brasil (EBC), publicação sujeita à batuta do Governo Federal, destacou ontem (6): “Pesquisa revela que 19 milhões passaram fome no Brasil no fim de 2020.” A matéria ressalta um dado da citada pesquisa: “55,2% dos lares brasileiros, ou o correspondente a 116,8 milhões de pessoas, conviveram com algum grau de insegurança alimentar no final de 2020 e 9% deles vivenciaram insegurança alimentar grave, isto é, passaram fome“.

Matéria do UOL, em 18 de março, trazia um título que soava sarcástico: “Brasil: o país da barriga vazia…” O texto assinado por Mariana Belmont constatava: “A verdade é que a fome voltou pro mapa e pra pauta da imprensa.

Mais que sarcasmo, na matéria havia presságio. As ‘manchetes da fome’ tomaram as principais publicações do país na última semana.

Não se trata de modismo, certamente. Muito menos de um “conluio” da “mídia golpista”. Trata-se da verdade escancarada. Alardeada com a ênfase devida. Destacada em negrito.

O país tem que reagir. Não pode mais tergiversar. É preciso entender que se trata de uma tragédia – aliás, mais uma. É preciso encontrar soluções: doações são bem-vindas, mas não bastam. É preciso encontrar um novo modo de nos construirmos enquanto povo.

Afinal, somos um povo. As manchetes da fome fustigam nossos tímpanos. São como as súplicas dos famintos às nossas portas. Não temos o direito de ignorá-las.

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