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Salto alto, saia curta, batom vermelho: um caso exemplar de assédio

Salto alto, saia curta, batom vermelho: um caso exemplar de assédio

Ela tinha 23 anos. Apesar da pouca idade, já se tornara “gerente de relacionamento” de uma importante agência de um dos mais importantes bancos do Brasil. Era certamente muito bonita. Eis aí, em poucas palavras, a descrição da autora da ação trabalhista proposta em face do Banco Itaú, julgada em última instância nesta terça-feira (24), que virou manchete nos principais jornais do país.

Trata-se de um caso típico de assédio. A mulher foi forçada a utilizar seus atributos físicos para atrair clientes. Segundo apurado, o gerente regional exigia que ela usasse “batom vermelho, salto mais alto e saia mais curta”. Num de seus mais delirantes excessos, ele teria sugerido que ela “usasse a beleza, já que não tinha talento”. Convém corrigir: não se trata de delírio, mas de violência. 

A jovem não suportou a situação por muito tempo. Sofreu intenso abalo psíquico e caiu deprimida. Todo esse contexto a motivou a pedir demissão. 

A ação trabalhista foi vencedora em todas as três instâncias. Ainda assim, com resultados díspares. A primeira instância fixou a indenização por danos morais em 500 mil reais. A segunda, em 8 mil. A última, no julgamento desta terça, deu números finais: 50 mil reais. 

Segundo o site do Tribunal Superior do Trabalho, a ação pedia “uma punição exemplar, com o fim de extinguir do ambiente de trabalho a falsa ideia de que a mulher tem que se sujeitar a tudo, ouvir qualquer ‘piadinha’ ou sofrer assédios sem se revoltar e protestar”. Convém reconhecer: a condenação não parece assim tão exemplar diante do poderio financeiro do Itaú. 

Em todo caso, a história em si é exemplar. A bela moça sofreu por ser bela. Os homens que a assediaram sofreram no máximo a dor dum breve remorso. A feiura venceu. 

A rigor, perdeu. Mas perdeu só 50 mil. É muito pouco pra transformar o caso num exemplo pra inibir o assédio que oprime, que deprime, que mata tantas mulheres. No caso, a mulher talvez tenha algum conforto com esse dinheiro. Mas o Itaú pagará a conta. E os assediadores seguirão impunes. O consolo talvez seja saber que eles são feios, feíssimos, repugnantes. E que ela, apesar de tudo, não terá perdido sua beleza. 

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