Opinião

Charles Zimmermann: Dizem que quanto mais religiosa uma nação mais pobre ela é

Charles Zimmermann: Dizem que quanto mais religiosa uma nação mais pobre ela é
Mesquita Jama, em Nova Deli na Índia, construída por volta de 1650.

Rezar diariamente e mais de uma vez ao dia consiste numa boa parte do cotidiano nos países mais pobres do oriente Médio (Iêmen, Síria, Egito), dos mais pobres do continente africano (Sudão, Mali, Mauritânia) e dos mais pobres na Ásia (Indonésia, Paquistão, Afeganistão). Fé demais parece que é um empecilho ao desenvolvimento econômico, ao bem-estar social e a qualidade de vida, escreve Muhammad Yunus em seu livro “O Banqueiro dos Pobres”, onde destaca o incentivo de microcréditos para ajudar os pobres em Bangladesh, seu país natal e um dos mais paupérrimos e religiosos do mundo. Razão essa que foi laureado com Premio Nobel em 2006.

Uma pesquisa apresentada ano passado com dados coletados em 2019 por um instituto americano que se chama PEW, realizada com 102 países, concluiu que em países onde a renda per capita é superior a 30 mil dólares ano há menos de 50% da população rezando diariamente. E, em todos os países onde mais de 50% da população reza diariamente, a renda per capita é menor do que 30 mil dólares ano, com exceção dos EUA. Os EUA permanecem sendo um país fortemente religioso e o mais devoto entre todas as ricas democracias ocidentais.

Nessa pesquisa os EUA são um ponto fora da curva. Na verdade, quando se trata de seus hábitos de oração, os americanos se parecem mais com pessoas em muitos países pobres, Bangladesh (57%) e Bolívia (56%). Os que menos rezam são os países escandinavos (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia), Suíça, Alemanha, Holanda. Os países que mais rezam é Afeganistão, Nigéria, Senegal, Indonésia, Egito. No Brasil 60% da população reza diariamente. Na América Latina mexicanos e colombianos rezam mais que os brasileiros de acordo com a pesquisa.         

Apesar de ser um país de maioria hindu, a Índia é o país com a maior população muçulmana do mundo. 

Viajar países extremamente religioso é uma experiência única. Seja um país muçulmano ou católica ou até budista. O primeiro assunto que se tem com as pessoas de desses países religiosos, após as tradicionais perguntas: de onde você é?, o que você faz da vida?, o que te trouxe até aqui…?, é das pessoas falarem de sua religião sempre a colocando num status elevado, acima de todos e de tudo. Num país muçulmano um convite obrigatório: visitar a mesquita que essa pessoa frequenta. Depois de um tour pela mesquita, sou sempre apresentado ao imã, que seria o pastor ou o padre. Esse sempre num discurso de querer te trazer ao seu templo. Mas claro, um tratamento sempre de muito gentileza, – uma característica do mundo muçulmano.

Num país budista como Nepal ou Birmânia, ou até mesmo na turística Tailândia, geralmente os monges não se aproxima de você turista. Mas se for visitar um monastério e ele reparar que você o observa, ele retribuirá com um sorriso de boas-vindas e como todo religioso terá o maior orgulho de explicar sua religião, mencionando o nome de Buda a cada três, quatro palavras. Num país católico como o nosso, ou México, ou Colômbia, você perambulando pela praça logo um padre notará você um forasteiro daquela comunidade. Ele irá te perguntar o que fazes ali, e não diferente dos budistas ou muçulmanos sobre sua mesquita ou monastério, te fará uma pergunta induzida: “não são maravilhosas as torres da nossa igreja?! ”.

Uma nação curiosa é a Índia. Sempre digo que existe o mundo que vivemos e paralelo a esse mundo, a Índia. País com 1,3 bilhão de habitantes e de maioria hindu, todo o seu colorido, todos seus cheiros, todos seus aromas, todos seus festivais, todos seus feriados, toda sua divisão social, todo seu povo, vivem focados na religião. Economistas afirmam que a Índia nunca será uma nação desenvolvida por causa de sua religiosidade que está intrínseca no modus operandi da nação. Por exemplo, nenhum homem de negócios começa seu dia de trabalho sem antes saudar com incensos o Deus Ganesh (elefante com formas humanas e Deus da fortuna e sabedoria) que está representado por alguma escultura sobre ou lado de sua mesa e num altar atrás dela.

Charles Zimmermann

Professor, Escritor e Global Thinker

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