– Oi, quantas vai ser? A nacional, a importada? Essas cores aqui que têm.
– Quanto custa? Essas são as nacionais? Quero as vermelhas.
– Cinco a nacional e nove a importada. Preparo um buquê bem bonito.
– Vou querer a nacional. Pode ser dez. Só elas, embrulhadas num papel, se você tiver.
– Não quer um arranjo? Não custa nada.
/ – Toda escolha custa infinitas renúncias. /
– Não, não. Prefiro só as rosas mesmo.
– Tá bom. Você quer escolher?
– Acho que as mais ou menos abertas, né?
– Sim. Vou pegar o papel.
– Obrigado.
A vendedora pegou as flores, colocou em cima do papel e fez um movimento rápido que as enrolou em forma de um cone, puxou um pedaço de fita adesiva, grudou no papel.
– Pronto. Assim que você gostaria?
– Sim. Obrigado.
/ – Não há meio do caminho para quem chega aqui. /
– Quer escrever um cartão? Tem aqui ó.
– Não precisa. Aqui, cinquenta reais.
– Certinho. Obrigada! E boa sorte!
– Obrigado.
E saiu porta afora sob o olhar da vendedora, que poderia até ficar emocionada, não fosse tão calejada com as flores, indiferente às intenções. Já o rapaz entendeu a “boa sorte” como quem se assume cúmplice de um segredo.
Lá fora, no sol, na rua, os carros passando, não sabia ao certo como segurar aquelas dez rosas embrulhadas. Não tão embrulhadas ao ponto de não se revelarem.
/ – Quem carrega flores está pronto para sua revolução. /
Aquele vermelho era visto de longe e as pessoas viravam as cabeças.
Orgulho e constrangimento lhe tomavam o corpo. Se via sendo olhado. O coração batia forte.
/ – A esperança chega na primavera. /
Numa placa de proibido estacionar na frente da floricultura, prendeu sua bicicleta. Diante dela tirou a mochila das costas e, com todo cuidado possível, colocou as rosas para dentro. Não conseguiu fechar o zíper. Tudo certo.
Mergulha na rua, carros, motos, ônibus e barulhos embrutecidos. As rosas seguem vivas em suas costas, penduradas, respirando um vento com cheiro de coragem.
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