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Há 500 anos, Lutero mudava a história

Há 500 anos, Lutero mudava a história

Diante da assembleia presidida pelo Imperador Carlos V e formada pelas mais altas figuras do Sacro Império Romano-Germânico, Martinho Lutero, acusado de heresia contra a Igreja Católica, foi questionado se reconhecia seus escritos e se os renegava. Ele então proferiu o célebre discurso, em que reconheceu a autoria dos escritos supostamente hereges e disse que eles tinham sustentação nas Escrituras Sagradas. Os nobres julgaram evasiva a resposta. Insistiram em perguntar se ele abjurava seus escritos. Lutero então concluiu sua defesa com estas palavras:

“A não ser que eu esteja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pela razão clara (pois não confio nem no papa ou em concílios por si sós, pois é bem sabido que eles  frequentemente erraram e se contradisseram) sou obrigado pelas Escrituras que citei e minha consciência é prisioneira da palavra de Deus. Não posso e não irei renegar nada, pois não é nem seguro e nem correto agir contra a consciência. Que Deus me ajude. Amém.”

Neste preciso instante – 18 de abril de 1521, em Worms, na atual Alemanha – nascia a modernidade. Diante do Império, diante da Igreja, diante de todo o legado da cultura europeia medieval, Lutero ousou invocar sua consciência. Era esta a mais alta instância aos pés de Deus: “Exceto algumas tentativas anteriores”, disse Hegel, “coube sobretudo aos nossos dias reivindicar como propriedade dos homens, ao menos em teoria, os tesouros generosamente entregues ao céu; mas qual época terá a força para fazer valer esse direito e dele se apossar?”

Descartes, mais de um século depois, ergueria sobre esse fundamento – a consciência individual – seu edifício filosófico. O Iluminismo concebeu, a partir da filosofia cartesiana, todo um sistema político e jurídico que regeria as nações do mundo ocidental. O mesmo Hegel, já no século XIX, descreveu esse processo histórico: “O princípio do mundo moderno é em geral a liberdade da subjetividade, princípio segundo o qual todos os aspectos essenciais presentes na totalidade espiritual se desenvolvem para alcançar o seu direito.”* Valores básicos de nossa cultura e nossa sociedade têm origem nesse processo. A modernidade ocidental acaba de completar meio milênio.

A assembleia dos Nobres, conhecida como a Dieta de Worms, condenou Lutero. Frederico III, Príncipe-eleitor da Saxônia, soube poupá-lo das punições. Entre os tantos presentes à assembleia, as sementes dos novos tempos já floresciam. A leste do Reno e ao norte do Danúbio, os homens já condenavam os abusos da Igreja medieval. Na porção mais germânica do grande Império, nascia a Reforma. Lutero morreu 25 anos depois do édito que o condenara.

*Ambas as citações são extraídas da “Fenomenologia do Espírito”.

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