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nem os sons nem as falsas luzes trepidantes me acenavam o sentido da ocasião herdada à mais fina tradição do ocidente
mas também à mais vulgar
toda forjada na invenção medieval dos padres alucinados que berraram que Deus lhes distinguia um amor maior que a razão e que Sua consequente loucura era a outra face do quase-conceito piscante encenado em cartesiana performance no palco do eu
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eu ali na calçada via um caminhão mercedes benz imitar um trenó transportando um ator sufocado por alegorias inexplicáveis sugerindo aos adultos a dor de nunca poder satisfazer sua sanha
a dor que deveras sentem
e ensinando às crianças a cederem ao desejo fervilhando nas sinapses mais supérfluas onde substâncias sempre novas conservam a opacidade linguística das verdades pretensamente libertárias mas na verdade já mortas
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morto de tédio me sentei à mesa dum bar onde tocava a-velha-canção-natalina-que-achava-a-felicidade-uma-brincadeira-de-papel de assis valente que morreu ao se atirar dum sobrado fugindo das vozes que outrora inspiraram seus grandes sambas e que então
durante o salto fatal
ecoavam uma verdade aguda e monstruosa como a máscara do ator do trenó a nos recordar dos presentes onipresentes nos quatro cantos do mundo graças à magia da grana
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a grana movia os fluidos da cena e os sons e as luzes trepidantes e mesmo o vigor das multidões vagando sob as marquises e armadas de grandes sacolas com os pedaços do que mais tarde seria o mosaico colorido sob a árvore de plástico no canto da sala imponderável
onde talvez depois de tudo
restem papéis rasgados ou peças esquecidas dum brinquedo ou ecos dos risos
risos que por instantes realmente nos salvaram
afinal silenciados pela luz da manhã de natal
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