Opinião

Os anticristos

Os anticristos

Todo cristão crê na segunda vinda de Cristo. Ele trará o fim dos tempos. E aí a consumação moral da história: a divisão entre os bons e os maus, segundo o perfeito julgamento de Deus.

Todo cristão se pergunta: quando ele virá? Responde o Apóstolo Paulo: será depois que se manifeste “o homem do pecado, o filho da perdição”. Ele, “o homem do pecado”, quer “parecer Deus”. Ele, “o filho da perdição”, tem “todo o poder” de Satanás. O fim dos tempos é um conflito de perfeita simetria: de um lado, o bem – Deus e Cristo; de outro, o mal – Satanás e o Anticristo.

Mas há um outro elemento que intervém nesse conflito. Algo que “agora o retém até que do meio seja tirado”. Algo que adia a consumação dos tempos. O Apóstolo não esclarece o que é. Os intérpretes das escrituras tendem a identificá-lo com instituições humanas: o império romano, a igreja católica, o estado moderno. Nele se projetam, em abstrato, as potências elementares – o bem e o mal. Nele se acomoda, sem jamais se tornar completamente concreto, esse conflito.

Trabalho com a hipótese de que nossa época está disposta a destruir esse elemento que “retém” a consumação da história. Agimos como se quiséssemos forçar a chegada de Cristo – e, portanto, como se buscássemos o Anticristo. Afinal, é o aparecimento deste que determinará a vinda daquele. Trabalho com a hipótese de que o sucesso de certos líderes políticos deve-se justamente a isso: eles agem como Anticristos, messiânicos e malignos. Neles está a verdade do mal. Não o mal disfarçado das instituições. Não o mal das democracias modernas digerido num sistema que promete um compromisso com a humanidade. Não o mal que convive com o bem. Eles trazem o mal puro: o esquecimento do dever (cristão, afinal) de amar todos os homens. Ao buscá-los, é como se disséssemos: “Chega dessa farsa! Chega da tentativa de construirmos um futuro! Vamos de uma vez ao céu – ou ao inferno!”

Sou cristã. Mas não creio que devemos precipitar a vinda de Cristo. Na verdade, acho que Ele já está entre nós. Ele é justamente esse amor tão puro que só pode se referir a toda a humanidade. É então a esperança de um futuro que traga o bem a todos nós.

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