Confessa aí, ô ishtepô: já rishte um bocado com aqueles Irmãosh Miranda. Quê? Não conhecesh? Claro que conhecesh! Vaish dizer que nunca vishte o Rocky Crossfiteiro? E aquela cena do Casablanca com o cara prometendo pra gata, se ela se vacinar, um camarãozinho? E aquela “redublagem” do filme “Sem Limite” em que o cara fala assim: “saí do Bokarra tão galo que achei que ia acabar a reforma da Hercílio Luzsh”? kkk. Claro que conhecesh, pô. Essesh rapaze são demaish…
Usei a palavra “redublagem” assim, entre aspas, pra destacar: ela define a arte dos Irmãos Miranda. Isso segundo eles próprios. Essa arte tem um quê de brincadeira, de jogo, de aposta, sei lá. É um contrato com o acaso. Tudo nasce da percepção deles: do movimento das bocas surgem palavras em português. Ou melhor: em algum idioma ilhéu. Na Ilha da Magia, também conhecida como Floripa, fala-se manezinhês e gauchês, entre outros dialetos. A redublagem põe nos lábios mais famosos do mundo esses idiomas. E neles as coisas de Floripa, de Laguna, de BC…
Parece brincadeira, mas é arte. Arte refinada. O refino tá naquela ‘percepção’ de que falei: ela faz a ponte entre o movimento das bocas (bocas sempre gringas, quase sempre célebres) e a linguagem da Ilha. Essa ponte é quase uma Hercílio Luzsh! É uma arte que envolve a leitura dos lábios e a projeção de sons correspondentes: arte dos olhos e dos ouvidos. Envolve também uma técnica sutilíssima de locução. Mas sobretudo: envolve criatividade, muitíssima criatividade.
Essa criatividade faz o jogo. Da leitura dos lábios nascem as primeiras palavras: o “i” falado pelo Messi, por exemplo, vira o “i” de Avaí ou de tainha. A partir destas palavras costura-se um texto: o Messi diz estar louco pra jogar no Avaí (e no Figueira) e pra comer uma tainha. Do texto surge a trama sempre num mesmo horizonte: o da Ilha, o de Santa, o nosso. E tudo, as vozes e o texto e o horizonte, tudo fica muito engraçado.
Nesse processo, eu imagino, atua o acaso. As primeiras palavras vêm randômicas. Delas se projetam esboços de cena, de personagens, de enredo – tudo sempre muito casual. Mas o acaso é só um impulso: a arte dos Miranda controla tudo, molda a forma, dá cada retoque. E então, no final, costura todos os fios como uma boa rendeira de bilro.
O mais incrível é que essa arte sempre remete ao local: a mais famosa cena hollywoodiana acaba sendo um episódio prosaico da Ilha ou de algum outro lugar de Santa. Sempre algo nosso. A arte assim soa autêntica. Mais que isso, soa poderosa: ela transforma o que nos vem de fora – por causa da grana que nos submete e da fraqueza com que nos entregamos a essa submissão – em algo que existe dentro de nós. Oswald de Andrade talvez chamasse isso de antropofagia. Eu chamo simplesmente de genialidade. Autêntica (e manezinha) genialidade.
Então, ô ishtepô, vaish ainda dizer que não conhecesh os Miranda? Ah para, né! Tásh tolo? Eu sei que tu já vishte lá no whatsh e no inshta. E que te matashte de rir. Eu também já ri um bocado. Essesh rapaze são demaish…
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