Opinião

Serjão Santana: “Time limitadíssimo, sem estilo nem coragem…”

O título do Palmeiras na Libertadores demonstra uma verdade que vem se confirmando há décadas: a profunda decadência do torneio. Trata-se, sem dúvida, de um dos mais célebres campeonatos de clubes do mundo. Talvez, ao menos durante um passado distante, o mais célebre. Hoje, seis décadas depois, a Libertadores dá sinais de uma crise crepuscular.


Lembro bem dos primeiros anos. O grande Peñarol de Matosas e Pedro Rocha. O timaço do Independiente. Palmeiras, Botafogo e Santos em formações lendárias. Semideuses do futebol cuspindo sangue em batalhas ilíadas! Até que veio aquela semifinal em 65. O Peñarol ganhou do Santos na porrada. E a era da porrada começou.


O auge da pancadaria deu-se entre 68 e 70, no tricampeonato do Estudiantes, time que se notabilizou pela violência e pela aversão ao antidoping. Nos anos 70, além da violência (e do doping), prevaleceu a corrupção: quatro títulos pro Independiente, então o rei da Conmebol. Nos anos 80 melhorou. Houve bons campeonatos e grandes campeões. Mas, apesar dos títulos de Flamengo e Grêmio, os brasileiros ainda não dávamos grande prestígio ao torneio. De 65 a 90, com algumas exceções, deixamos a Libertadores de lado.


Em 91 isso mudou. O São Paulo do Telê ganhou o título e incendiou nossa paixão pela taça. Somada às paixões dos vizinhos sulamericanos, a copa bombou. A década de 90 teve grandes campeonatos. Mas foi o canto do cisne.

No novo milênio começou a devastação do nosso futebol. O futebol da América do Sul. Nossos bons jogadores foram todos à Europa. Nosso ouro foi exportado ainda em pepitas. Viramos a segunda divisão do futebol mundial. Houve ainda bons times: o Boca na primeira década, o River na segunda, o Flamengo em 19. Mas em regra o nível foi baixíssimo.

O Palmeiras, agora campeão, confirma a tendência. Time limitadíssimo, sem estilo nem coragem, teve atuação constrangedora no mundial. E, não sem certo desânimo, temos que reconhecer: nenhuma surpresa nisso. O que nos espanta é que esse time, além de ganhar a Libertadores, está na final da Copa do Brasil e, se forçasse um pouco, disputaria o título do Brasileirão.

Eu falava em decadência do nosso torneio continental. Agora retifico: a decadência é do futebol praticado neste continente. E talvez a do próprio continente, que agoniza sempre mais pobre e submisso. Se o futebol é uma metáfora da vida, nosso destino aponta a um horizonte sombrio.

Serjão Santana

Serjão Santana jogou futebol amador em Itajaí. Fã dos irmãos Rodrigues, abraçou a crônica esportiva. É marcilista e botafoguense.

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