Opinião

Vítor Véblen: Algo ou alguém.

Vítor Véblen: Algo ou alguém.

Minha última coluna soou obscura mesmo aos leitores mais atentos. Tratei ali da “volta de LILS”. Argumentei que isso deflagrou o início da batalha entre o ex-Presidente e o atual: “LILS versus JB”. E então ousei a seguinte elocubração: “Algo ou alguém decidiu que agora, nesta última semana, ela [a batalha] teria início. Este é o “detalhe” que intriga. Seja quem for, esse algo ou esse alguém tem uma razão pra isso.” Precisamente nessa ‘elocubração’ os leitores viram obscuridade. “Quem é – perguntam eles – esse algo ou alguém?”

De fato, a frase tem um sujeito obscuro. “Algo ou alguém” é uma expressão vaga. Aliás, a mais vaga possível – se considerarmos que serve justamente a designar o tal sujeito. Meus leitores têm razão. Devo-lhes esclarecimentos.

Um início de esclarecimento já havia no próprio texto da semana passada. Citei “as grandes Instituições – o Judiciário e a Mídia entre elas – e seus holofotes”. Era uma pista. Os leitores mais atentos não deixaram de percebê-la e de me perguntar: “então esse ‘algo ou alguém’ é a mídia e seus barões?” Respondo: não exatamente. Perguntam mais: “são os Ministros do STF?” Respondo: certamente não. “Então quem diabos são eles”, perguntam os leitores já exaltados – e com razão.

Certa vez, já há anos, eu lia Luhmann e pensava exatamente nessa questão. Cheguei à seguinte conclusão: quanto mais concreta for a resposta, quanto mais ela acreditar que a Instância que de fato nos governa – “algo ou alguém” – é composta por determinados homens com suas humanas vontades, mais primitiva tal resposta será. Filosoficamente, essa “Instância” tem que ser tão abstrata quanto possível. Não se trata de uma consciência individual – ou mesmo várias em conjunto – a definir nosso destino. Trata-se de uma entidade que digere todas as consciências num mecanismo que sempre se expande e que assimila tudo. Trata-se, numa palavra, do Sistema.

Por essas e outras deixei de ler Luhmann. Cheguei, tempos depois, à conclusão de que a teoria luhmanniana – sobre o “sistema” e tal – não adianta nada. Não ajuda nada. Não resiste em nada ao despotismo do tal “algo ou alguém”. No ponto, fico com a objeção de Habermas: a consciência individual sempre será a última instância – o pensamento humano não pode superar a si mesmo.

Volto ao nosso tema. Falávamos do confronto entre LILS e JB. Perscrutávamos quem – ou o quê – deflagrou esse confronto precisamente neste momento. E, salvo por alguns poucos esclarecimentos, não andamos um passo na direção dessa resposta. Andemos em frente, pois. Foi a Carmem Lúcia quem resolveu deflagrar o confronto? Não. Foi o Gilmar Mendes? Não. Foi o Fachin? Não. Foram os hackers que vazaram as conversas do Moro? Não. Foram os russos, ou os chineses, ou os israelenses, ou qualquer outro “grupo” de preferência das teorias da conspiração? Certamente não: essas teorias têm sempre as piores respostas – até porque são as mais ridículas.

A resposta que buscamos não está em lugar nenhum. Essa busca não pode ser ingênua a ponto de imaginar o pote de ouro no fim do arco-íris. A questão que confrontamos não tem uma solução clara e definitiva. O êxito de nossa busca é a própria colocação da questão. A resposta é um processo permanente e inesgotável. O cenário, os atores, as sutilezas do enredo, o estilo inconfundível do autor – os elementos mais importantes desta peça que vivemos no Brasil e no Mundo: isto é o que devemos sempre considerar, até porque isso sempre muda. A resposta que buscamos é apenas isso: a consideração – tão lúcida e tão constante quanto possível – desses elementos.

Então sempre haverá “algo ou alguém”. E sempre novo. E nunca totalmente “revelado”. Uma tal revelação – total, pura, definitiva – só se daria em Deus. Mas convenhamos: é melhor não tomar seu Santo Nome em vão. Especialmente diante de um tema tão mundano como esse de que temos tratado.

Vítor Véblen

Vítor Véblen é iniciado em literatura política. Viveu em Chicago, onde estudou economia. Mora atualmente em Joinville.

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