Opinião

Serjão Santana: Vasco da Gama e o Cabo da Boa Esperança

O Vasco vai cair. As chances de evitar o rebaixamento são desprezíveis. Convém, portanto, desprezá-las. E pensar no que virá após.

Vascos da Gama são pelo menos dois: o navegador e o time. Ambos célebres e notórios. Ambos dados a feitos épicos. Ambos dispostos a enfrentar o destino. O navegador foi cantado pelo poeta maior, no poema maior, da língua lusitana: não há mais nada a dizer sobre ele. O time tem sido exaltado por muitos, incontáveis cronistas de nossa era. Humilde, me junto a estes. Ousado, me inspiro naqueloutro. 

Notem que uso a palavra ‘time’. Poderia usar outras: clube ou instituição. Mas não gosto destas. Não trato de um ente jurídico, com certidão e CNPJ; este ente, assimilado ao nome Club de Regatas Vasco da Gama, suspira sob uma palidez terminal. Trato de um time. Trato dos tantos jogadores que vestiram a impactante camisa atravessada pela faixa diagonal; e pontuada, no peito, com a marca sanguínea da cruz de malta. Trato dos tantos milhões de torcedores que cultuam essa camisa com o ardor dos fiéis. Trato da história centenária que une os jogadores e os torcedores através daqueles símbolos – e que segue sempre mais exuberante. 

O Vasco vai cair. As chances de evitar o rebaixamento são desprezíveis. Convém, portanto, desprezá-las. E pensar no que virá após. A crise se aprofundará. Provavelmente levará a uma situação de insolvência. A gestão será dificílima e, se considerarmos o histórico das últimas administrações, pode se tornar catastrófica. O Clube agonizará. Mas o clube é uma ficção jurídica. Sob a tez pálida desta entidade viceja o verdadeiro Vasco: a camisa, a torcida, a história – a cruz de malta como um coração viril e perpétuo. 

E o Vasco vai subir. Vai enfrentar, exatamente como seu celebérrimo homônimo, seu mais árduo desafio. Vai cruzar o Cabo da Boa Esperança. A travessia começa agora. Há de se nortear pelas estrelas de Roberto e Edmundo, de Ademir e Danilo, e de Fausto. E terminará só quando alcançar, já bem além da Trapobana, o horizonte solar de seu destino grandioso.

Serjão Santana

Serjão Santana jogou futebol amador em Itajaí. Fã dos irmãos Rodrigues, abraçou a crônica esportiva. É marcilista e botafoguense.

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